27 de jan. de 2008

Estrutura da população da raça Gir registrada no Brasil

Introdução

A raça Gir tem alcançado nos últimos anos, através da sua linhagem leiteira, crescente destaque dentro da pecuária leiteira nacional e internacional. A crescente demanda por material genético adaptado para produzir leite a pasto com qualidade, rusticidade, longevidade (dentre outras), aliado a um programa sério de teste de progênie, levaram o Gir Leiteiro a comercializar no ano de 2004 quase 600.000 doses de sêmen, segundo ASBIA. A raça Girolando (Holandês x Gir), que tem na sua formação esta importante raça zebuína também tem alcançado grande êxito comercial tanto no Brasil como no exterior o que vem comprovar a importância do Gir no cenário mundial.

Leio o restante do artigo aqui

21 de jan. de 2008

Vermes causam doloridas otites

SANIDADE

Luiz H. Pitombo, Revista ABCZ

Raças bovinas com orelhas grandes são as mais afetadas pela
doença, que no Brasil tem três agentes identificados.

Entre os pecuaristas é bastante difundido que os helmintos, ou simplesmente vermes, podem parasitar o intestino, rúmen, abomaso e os pulmões dos animais acarretando muitos prejuízos. Contudo, nesta lista não podem ser esquecidos aqueles que se localizam nos ouvidos dos animais e que trazem grande incômodo e igualmente perdas. Além dos gastos exigidos em seu controle e tratamento, os animais se alimentam mal, perdem peso e produção de leite, entre outros transtornos. O problema não é generalizado, atacando praticamente apenas raças com orelhas grandes, onde o acúmulo de cerume cria ambiente favorável ao seu desenvolvimento. Nessa situação se encontram a indubrasil e a gir.

No País, três destes vermes tiveram sua presença identificada: Tricephalobus oticola, Micronema spp e o Rhadditis spp. Este último começou a trazer complicação a produtores e aguçou a curiosidade de pesquisadores no Rio de Janeiro. Anteriormente, sua ocorrência já havia sido registrada em trabalhos científicos nos Estados de São Paulo, Goiás, Minas Gerais e Distrito Federal. Entretanto, pode estar muito mais disseminado pela própria comercialização e trânsito de animais parasitados, isso vale também para os outros dois vermes.

Após se deparar com o problema e sem saber como evitá-lo, Marcos Araújo Nogueira, gerente da Fazenda São. Fernando, em Vassouras, RJ, passou a contar com a ajuda dos veterinários Pedro Moreira Alves, da Pesagro; e Fábio Scott, do departamento de parasitologia da Universidade Federal Rural, também do Rio de Janeiro. É preciso lembrar que as otites podem ter diferentes causas como ácaros, afetando várias raças.

Scott comenta que o parasita encontrado na propriedade é ainda pouco conhecido e estudado no Brasil, com o primeiro relato da sua existência registrado no início da década de 1970. Ele considera que essa ausência de informação, aliada ao reduzido tamanho do parasita, possa ser a resposta para o pequeno número de notificações, já que “muitas vezes passam despercebido dos produtores, que notam somente um quadro de otite recorrente”. Acredita-se, como relata, que o formato acartuchado do pavilhão auricular das raças gir e indubrasil crie microclima favorável ao parasita. Nos casos mais graves, o pesquisador da UFRRJ diz que podem ocorrer lesões neurológicas, deformação do pavilhão auricular, dificuldade de mastigação e paralisia facial parcial.

O veterinário Alves, da Pesagro, revela que houve formação de pus nos animais da propriedade, o que tornou o cerume no ouvido de coloração amarelada e com odor extremamente desagradável. Essas características o tem auxiliado na identificação do problema. Ele explica que usa uma haste de madeira envolta num chumaço de algodão, como um “cotonete”, que introduz na orelha do animal fazendo movimentos giratórios. Quando o cerume retirado é escuro e sem cheiro, avalia que a infestação é baixa ou inexistente. Se amarelado e às vezes malcheiroso existe a infestação, que igualmente pode ser comprovada olhando-se cuidadosamente a haste contra a luz. Similares a fibras muito finas, diz que é possível observar o parasita em movimento. Também criador de gir e estudioso da raça, Alves diz que em sua propriedade, em Rio das Flores (RJ), não enfrenta o problema e nem conhece outras que passam por esse tipo de transtorno. Mas naquela que estão acompanhando, além do parasita estar bastante presente, os tratamentos não têm funcionado a contento.

16 de jan. de 2008

CRIADOR DE GIR LEITEIRO OU PRODUTOR DE LEITE?

A pergunta que não quer calar é a seguinte: afinal, somos apenas meros criadores de gir leiteiro ou pensamos e pautamos nossas ações como agentes importantes da cadeia produtiva do leite e sob este aspecto então somos produtores de leite, alimento básico para a perpetuação da raça humana?


Crio Gir Leiteiro há apenas 2 anos, mas convivo com o curral desde menino quando meu pai despejava sob minha caneca de café o líquido branco que faz crescer meninos e meninas saudáveis.Dessa época para cá muita coisa mudou para melhor, mas a remuneração dos produtores continua em baixa.


Mas,ao invés de reclamar do governo, o que nós pecuaristas temos feito no sentido de incrementar o aumento do consumo de leite? Esta é, afinal, a condição primeira para uma melhor remuneração do nosso produto e conseqüentemente um incremento em toda a cadeia, envolvendo grandes produtores de leite, grandes fornecedores de genética, pequenos e médios produtores e até mesmo o tirador de leite, que tem nesta atividade, muitas vezes, o sustento dele e de sua família.


Temos procurado com assertividade unir a cadeia, juntando produtores, fornecedores de insumos, fornecedores de genética, distribuidores e o pequeno, médio e grande varejo na luta pelo aumento do consumo, sem o qual certamente não teremos nenhum futuro?


É certo que o Brasil passa de uma condição de importador para a de exportador de produtos lácteos e grande parte dessa virada se deve à intensificação do uso de alta tecnologia, especialmente dentro da porteira, onde palavras como inseminação artificial, transferência de embriões, fecundação in vitro há muito deixaram de ser novidade e passaram a integrar um rol corriqueiro de atividades da fazenda.


Neste aspecto, o GIR LEITEIRO é exemplo para o Brasil e para todo o mundo tropical. Há 20 anos, iniciamos em parceria com a EMBRAPA , o teste de progênie inédito até hoje entre as raças zebuínas. Eu vi nascer este programa, quando ainda era funcionário do Departamento de Marketing da Fundação Bradesco, na época controladora da PECPLAN BRADESCO, que desde os primeiros tempos acreditou no projeto. Depois, quando iniciávamos a construção do GRUPO PUBLIQUE,hoje a maior e melhor empresa de comunicação 100% focada em soluções de marketing para o agronegócio brasileiro, estreitamos ainda mais os laços com a raça ao criarmos para a ABCGIL, Associação Brasileira de Criadores de Gir Leiteiro,sua logomarca, ainda em uso até hoje.


A ABCGIL possui um histórico de grandes realizações em prol dos seus associados e em prol do GIR LEITEIRO no Brasil, mas a hora é de avançarmos mais rapidamente e com muito mais sede ao pote da cadeia produtiva.Somos hoje, pouco mais de 100 associados.O GIR LEITEIRO é sem dúvida, questão de segurança nacional.Ele é base da fórmula para se produzir o leite a pasto, que tanto precisamos.Só o GIR LEITEIRO é capaz de dar resposta ao aumento de consumo, com seu leite produzido a capim, barato e de forma saudável. É ,sem dúvida, a salvação da lavoura, ou melhor, da ordenha brasileira.

Para que os atributos raciais do GIR LEITEIRO, herdados da Índia e tão bem trabalhados pelos criadores brasileiros, não se perca no meio do caminho, precisamos incentivar a imediata adoção de uma campanha intensa de valorização do produto leite, sem a qual de nada adiantará termos uma elite de criadores de genética, mas que em algum ponto não muito distante da vida nacional, não mais encontrará eco junto a um consumidor que não valoriza e não compra nosso produto.

E esta conta deverá ser paga, não pelo governo, mas por todos os integrantes dessa cadeia, quer sejam produtores, entidades de raça, fabricantes de insumo, distribuidores e varejo.Cada um desses elos tira da cadeia o seu sustento e é natural que contribuam para o fortalecimento dela.Na última vez que estive em Nova York, em junho do ano passado, pude ver um anúncio de página inteira em defesa do consumo de leite, no Jornal USA TODAY, de circulação nacional naquele país.Já está mais do que na hora de nós, criadores de gir leiteiro e produtores de leite que somos , pensarmos além das fronteiras de nossas fazendas.Nosso cliente não é e nem nunca foi o vizinho que compra nossos tourinhos ou aquele criador que compra nossos embriões. Nosso cliente é Sua Majestade, o consumidor. Nosso cliente é a Rainha Dona de Casa. E esta é uma briga de cachorro, digo de gente grande. Ou melhor, de gente que pensa grande.

Carlos Alberto da Silva (foto)
É técnico agrícola e jornalista, graduado na PUC-SP, em 1988. Fez Especialização em Marketing pela ESPM - Escola Superior de Propaganda e Marketing.
Trabalhou como bóia fria nas férias escolares, entre 1980 e 1982 e também de janeiro a setembro de 1983.
Empresário, é Presidente e Fundador do Grupo Publique a maior empresa de soluções de marketing para agronegócios do Brasil, que atua na área desde 1988.
Desde 2004, é criador de Gado Gir Leiteiro PO, na Rio Vale Agronegócios, em Porangaba - SP.

10 de jan. de 2008

"Puro de Origem" – Uma questão difícil.

Retornaram recentemente as velhas discussões sobre essa questão.

No Aurélio encontramos:

"Raça: Conjunto de indivíduos cujos caracteres somáticos, tais como a cor da pele, a conformação do crânio e do rosto, o tipo de cabelo, etc., são semelhantes e se transmitem por hereditariedade, embora variem de indivíduo para indivíduo”.

"Puro: Sem mistura nem alteração; genuíno”.

"Puro-sangue: Diz-se de animal de raça pura, sem cruzamento de outra raça".

Acontece que ultimamente, depois das novas tecnologias que foram alcançadas, ficou difícil falar de "Puro de Origem" sem levar alguns arranhões.

Não podemos esquecer que outrora e ainda hoje provar esta "Origem Pura" é que são elas.

Isto porque a questão tem que ser analisada sob diferentes óticas e diferentes contextos, pois esta expressão tem diversas conotações.

Sempre, a nível de seleção e entendimento dos criadores de modo geral, ela quis dizer "Pureza racial”, origem limpa ou gado sem mistura. Ainda gado originado de locais segregados e em isolamento por longos períodos de tempo.

Vejamos as diversas designações e situações encontradas hoje em dia e fazendo um breve esclarecimento sobre cada uma delas:

1 - PO - Animais inscritos na Categoria "Puro de Origem" do SRGRZ da ABCZ.

O Artigo 50 parágrafo 1º reza: “Serão registrados com PO”:

A - Os produtos de acasalamentos entre animais da categoria PO.

B - Os produtos que atendam ao que determina o Parágrafo único do artigo 74 deste regulamento, ou seja, “Com exceção para a raça Cangaiam, também poderá ser inscrito no RGN da categoria PO o animal que tiver duas gerações ascendentes conhecidas dentro da categoria LA...”.

C - Os produtos importados como PO, de acordo com as informações oficiais do serviço de registro genealógico do país de origem e normas complementares do MAPA.

Bem, vamos comentar as três possibilidades:

A - Como sabemos os animais registrados na categoria PO são descendentes dos antigos animais registrados no LF "Livro Fechado" que passou ser denominado assim após o fechamento do livro de registro por volta de 1971, conforme recomendou um fórum nacional de criadores, se não me falha a memória, ocorrido em Uberaba em 1967.

Antes do fechamento do livro, o critério para registro de animais era o enquadramento dos mesmos, por comissão de juízes ou juiz único, no padrão da raça, tal qual é feito hoje o registro de animais na categoria LA.

Assim se o animal era oriundo de cruzamento absorvente, mas já se enquadrava no padrão da raça, ele era registrado e chamado de "Puro de Origem".

Saliento, contudo que nem todos os animais registrados desta forma eram provenientes de cruzamentos absorventes, apenas uma minoria.

Tudo isso ocorreu dentro da legalidade e atendendo plenamente o regulamento aprovado pela ABCZ e MAPA, mas nenhuma garantia de pureza de origem.

B - Para registrar hoje um animal na categoria LA o critério é o mesmo acima, ou seja, o enquadramento no padrão da raça.

Então vejamos o que pode acontecer: Um criador toma, por exemplo, uma vaca GIR PO de ótima caracterização racial, dentro de padrão ABCZ e cruza com um touro Holandês Vermelho e Branco e produz uma excelente 1/2 sangue de cor castanha ou vermelha. Esta 1/2 é acasalada com um touro GIR PO também de excelente caracterização racial e produz uma linda fêmea 3/4 GIR - 1/4 HOLANDÊS.

Pela experiência que tenho, 10% destas fêmeas com este grau de sangue já se enquadram nos padrões de registro do Gir Leiteiro.

(Padrão de registro Gir Leiteiro???? Isto porque, antes, quando um animal no curral de um criador não estava atendendo plenamente o padrão de registro, você falava pro técnico "ela é leiteira" ou “Você registrou uma pior do que essa no curral do fulano porque ela era leiteira, então porque não registrar a minha; e ele registrava. Isto se transformou entre os criadores em padrão Gir Leiteiro)”.

As outras 90% das 3/4 Gir são acasaladas novamente com touro GIR PO de excelente caracterização racial e produzem fêmeas com 7/8 GIR - 1/8 HOLANDÊS, das quais 90% dão registro como Gir Leiteiro, porque atendem o que o escritor Rinaldo do Santos chamou de características fundamentais da raça: Orelhas compridas gavionadas, pelagem, presença de cupim e crânio ultraconvexo.

Assim com três gerações já teríamos uma linda LA de fundação e mais duas gerações uma linda bezerra "PURA DE ORIGEM".

Esta receita, inclusive, foi publicada por um técnico assessor de uma das famosas fazendas fundadoras do Gir Leiteiro com um título mais ou menos assim: "COMO FAZER GIR LEITEIRO". Isto é de conhecimento publico e acho que no meu baú de quinquilharias eu tenho um exemplar.

Tudo isso foi feito e pode ainda ser feito sem ferir as leis vigentes e totalmente amparado pelo regulamento da ABCZ e MAPA, mas garantia de pureza, nenhuma.

Saliento mais uma vez que apenas uma minoria de animais pode ter ocorrido desta forma e que esta não é (para o que muitos podem estar pensando) a origem do Gir Leiteiro.

O Gir Leiteiro originou-se da capacidade de visão de valorosos criadores, que tiveram, na época, a capacidade de ver além do horizonte o potencial de produção de leite que o Gir poderia atingir e não satisfeitos com a seleção empírica que era praticada, resolveram iniciar uma seleção com bases científicas valorizando esta aptidão leiteira do gado.

Buscou-se então identificar touros e vacas de alta produção. Da Índia vieram então Subud, Hindostan, Labhagauri, Naidu, Virbay, Vijaya e muitos outros.

No Brasil tivemos também o início da Estação de Umbuzeiro (PB) e a estação Getúlio Vargas, em Uberaba (MG), ambas com seleção para leite. Também tivemos o início da Estação de Sertãozinho (SP), com seleção para corte.

C - Produtos importados como PO no país de origem, em zebuínos, só ocorreu, pelo que conheço, no Brahman, porque isto não contemplou os animais da ultima importação da Índia em 1962, que foram registrados de acordo com o regulamento antigo.

Mas, o Brahman todos nós sabemos tratar-se de uma raça feita nos Estados Unidos à base de cruzamentos de diversas raças indianas como nelore, guzerá e gir, onde se juntou também uma boa pitada de sangue europeu (Bos Taurus).

Aqui os animais importados e seus descendentes podem ser registrados como PO, mas não se esqueçam, ela é: não pura desde a origem.

2 - POI - PURO DE ORIGEM IMPORTADO

Designação utilizada para os animais importados em 1960/62 e seus descendentes.

Também usada nos filhos dos touros trazidos da Índia após 1962, os chamados "Nova Opção" desde que também filhos de vacas POI.

Os animais que são tidos como POI ou que possuem esta sigla no seu nome, na realidade não fazem parte de uma categoria de registro da ABCZ e não tem amparo no regulamento do SRGRZ. É uma expressão de uso comum entre os criadores das diversas raças.

Esta designação foi uma jogada de marketing feita pelos criadores que participaram da importação de 1962 para valorizar seus animais.

Porquê os importados antes de 1962 não são considerados POI? Por que os animais vindos antes de 62 eram adquiridos na rua e de pequenos camponeses, não eram de fonte segura. Nesta época, os grandes e bons selecionadores eram os Marajás e só a partir de 1960 é que criadores brasileiros tiveram acesso ao gado dos Marajás.

Mas, todos sabem que onde tem dinheiro sempre tem espertalhão querendo ganhá-lo facilmente.

Com a grande valorização dos POI´s ocorreu o óbvio. Uma vaca PO paria um excelente bezerro e junto uma vaca POI paria um bezerro ruim, então se fazia a troca. Todos sabem também que muitas vacas POI pariam todos os anos, nunca falhavam e também não morriam, pois quando isso acontecia ressuscitavam lá na frente.

Isto ficou comprovado pelos resultados de DNA mitocondrial que acusaram sangue de "BOS TAURUS" em boa parte de animais Gir e Nelore POI´s examinados.

Mais uma vez a pureza de origem ficou comprometida.

3 - PO INDIANO - PURO DE ORIGEM INDIANO.

Designação de uso relativamente recente, ainda não está bem definida. É usada para diferenciar os "Novas Opções" mais recentes dos POI´s antigos. Usada também para referenciar aos animais que ainda estão na Índia sob coleta de semem ou coleta de embriões.

Isto aconteceu porque houve duas levas de "Novas Opções", uma na década de 60 a 80 realizada por diversos criadores, dos quais destacamos os herdeiros do Celso Garcia, Torres Homem, Rubico de Carvalho, Betinho Mendes, o pessoal de Ponta Porã, etc.

Esta primeira leva trouxe grande contribuição ao Nelore com a vinda de touros como: Ashoka, Chekurupadu, Meru, Chandalluro, Bazuah, Hakan, Raja, Guru, Akbar, Ramã, Amanobrullo, etc..

Para o Gir não houve grande contribuição, mas destacamos os touros Padumano e Dilip Dadamio.

A segunda leva ocorreu a partir da década de 90 até os dias de hoje e pelo que temos notícias o Gir e o Guzerá foram os maiores usuários desta leva.

Nesta leva veio sêmen de Premnath, Gorak, Roopano Novo, Chandam, Nano Sudhano, Madhul, Tokaryo, Tilak, todos do Gir.

Estes animais foram arrebanhados na Índia pelos religiosos que agora são os grandes selecionadores e preservadores de material genético por lá.

No início de 1997 estive visitando um criador amigo que tinha uns quarenta bezerros nascidos desses touros da segunda leva. Fiquei estarrecido com o que vi. GIR PAMPA eu ainda não tinha visto e vi lá. Rabo branco, estrela e sem falar na conformação que não era boa nem na aptidão leite e nem na aptidão carne. Isto me mostrou o alto grau de miscigenação a que o Gir foi submetido na Índia após a sua independência.

Recordei-me quando ainda pequeno, cortava a ponta branca do rabo de bezerros vermelhos que tinham ponta branca e quando morei no Pará, trabalhando com gado Nelore de corte observava o desempenho diferenciado dos filhos de touros Gir nas vacas Nelores e via também um alto índice de bezerros vermelhos ou amarelos ostentando uma linda estrela na testa e um rabo mesclado de branco. Eram os sinais da miscigenação no passado e a volta dela quando fazemos cruzamento entre as raças zebuínas.

Em outro criador, os animais eram de orelhas muito compridas, caracterização racial só atingia o aceitável após a segunda cria, os olhos eram arrendodados.

Segundo Alexandre Barbosa da Silva, em “O Zebu na Índia e no Brasil, 1947” citando Mollison, 1901 em seu trabalho para o Departamento de Agricultura de Bombaim, dizia: “A cores do Gir são características que o distinguem e, no entanto, estas cores variam muito. ...Uma mistura mais definida de duas cores, em pequenos pontos, é a coloração mais comum da pelagem do Gir puro e dou a esta disposição de cores o nome de” speckled “que traduzimos por chumbada, chuviscada, chita ou chitada”.

Um renomado técnico em visita à Índia da década de 90, junto com o Dr. Rômulo, Vicentinho, Arnaldinho e outros grandes criadores, ouviu de um indiano que o Gir de lá havia perdido esta pelagem "chita ou chitada", e que esta pelagem estava sendo restabelecida através do uso de sêmen de animais brasileiros levados de volta da mesma forma como vinham os indianos.

Ele e nós observamos que, diferente do que foi encontrado e trazido da Índia nas grandes importações de 1920 e 1930 e também nas importações de 1960/62, a maioria do gado Gir indiano hoje é vermelho. Por isso quando em leilões entram animais vermelhos, o leiloeiro ou algum marketeiro logo grita: "È típico indiano". Isso foi por causa do avermelhamento do gado Indiano. Segundo o Hélio Lemos: "É sangue de sindi".

As fotos e os filmes que vi da Índia de 1990 para cá, não me entusiasmaram. Os touros com algumas características indesejáveis mais ou menos como as citadas acima. As fêmeas de lá, pelo que pude observar são bem alimentadas, diferente de antes, e mesmo assim a maioria não demonstra boa produção de leite. (vide álbum no blog Gir Brasil), sem falar na caracterização racial que não agrada.

Resumindo estes puros de origem indianos parecem carecer de origem e também de pureza.

4 - PO INDICUS - PURO DE ORIGEM PELO DNA MITOCONDRIAL.

Esta é uma nova ferramenta da tecnologia moderna que apareceu para comprovar pureza de origem dos zebuínos.

Este teste mostra o DNA Mitocondrial (presente na mitocôndria da célula) do animal que é transmitido sempre pela mãe, ou seja, aí você rastreia toda linha materna do seu animal mais de 30 trinta gerações.

E é aí que muita gente está dando com os burros n'agua.

Vejamos, segundo levantamento de escritores, entrou no Brasil durante todo o período das importações mais ou menos 6.200 animais zebuínos das diversas raças. O rebanho brasileiro hoje é composto de mais ou menos 180 milhões de cabeças, dos quais aproximadamente 80% são de sangue predominante de zebuínos, ou seja, mais ou menos 144 milhões de zebuínos. O nosso desfrute, dizem que é baixo, vamos considerá-lo 20%. Assim abatemos anualmente média de 28,8 milhões de zebuínos, que nestes anos últimos 50 anos somariam mais ou menos 1,4 bilhões de zebuínos. De onde surgiu tanto gado? Lógico, dos cruzamentos absorventes do gado europeu existente.

E isto como disse em outro tópico, este teste está provando com a presença de DNA Bos Taurus no gado de todo mundo.

Tivemos informações que os testes realizados em Nelore apresentaram mais de 80% com gens Bos Taurus, sendo nos nelores POI´s este percentual foi um pouco mais baixo. No Gir, também não foi diferente.

Um girista que possui um gado muito caracterizado e considerado um dos melhores do país, fez o teste em todo seu rebanho ou quase todo e obteve um percentual de mais ou menos 36% de Bos Indicus e 64% com Bos Taurus. Foram examinados animais dos mais renomados criatórios, dos puristas mais extremados, tais como Zeid Sab, Renato Junqueira, Mamedi Mussi, Evaristo de Paula, Geraldo Simões, Jorge Cordeiro e outros. Todos eles obtiverem resultado semelhante.

Este teste tem alguns inconvenientes.

O primeiro é que se uma fêmea 1/2 sangue for filha de touro holandês x vaca Gir Bos indicus o resultado desta mestiça será Bos Indicus, porque o seu DNA mitocondrial foi herdado da mãe, que é Indicus. Daí cada um tire suas conclusões.

O outro inconveniente é que, pelo que eu pesquisei e ainda não consegui obter todas as informações, ele não separa dentro do Bos Indicus o DNA do Gir, do Nelore e do Guzerá que são as principais raças dos troncos indianos existentes no Brasil.

Sabemos que o Indubrasil é formado pelo Gir, Guzerá e Nelore, considerado pelos puristas mestiço. Assim seu animal Gir ou Nelore ou Guzerá com DNA Bos indicus pode ter mistura de raças Bos Indicus.

Segundo informações, esta separação das raças Bos Indicus por DNA parece ser possível, mas ainda não foram concluídos todos os estudos necessários.

Resumindo, este teste de DNA mitocondrial ainda não conseguiu provar a "pureza racial".

Então o que fazer?

A meu ver, não temos muita coisa a fazer.

Já que será difícil comprovarmos a pureza racial dos nossos rebanhos, prefiro trabalhar dentro dos princípios que vínhamos trabalhando, ou seja, dentro dos padrões raciais estabelecidos, pois pelo visto, foram elaborados de acordo com as observações de criadores, pesquisadores e pessoas interessadas e amantes do zebu no Brasil e na Índia por mais de séculos, pois os escritos remontam á antiguidade.

Rinaldo dos Santos para escrever o livro "Fundamentos Raciais do Gado Gir, 1990" entrevistou criadores de todo o país. Mediu animais de todos os criadores, pesquisou escritos antigos no Brasil e os indianos considerados sagrados, consultou os sertanejos e as crendices populares. Analisou isso tudo e classificou as características raciais do Gir em Fundamentais e Majestáticas.

Recomendo este livro a quem deseja aprofundar seus conhecimentos nas características raciais do Gir e aqueles que precisam saber diferenciar as características fundamentais das majestáticas, principalmente aos Srs. Jurados de hoje em dia que vivem falando em suas justificativas de julgamentos "Este animal tem excelente caracterização racial" quando na realidade ele é regular e às vezes, não preenche totalmente as fundamentais.

Prefiro focar meu trabalho agora na produtividade, nunca esquecendo as características majestáticas da raça.

Por isso, como um dos idealizadores, defensor e participante do "Teste de Progênie GIRGOIÁS / EMBRAPA” defendo a avaliação de tipo, pois como já dizia o poeta "que me desculpem as feias, mas beleza é fundamental”.

É fundamental e vale dinheiro, pois meus clientes quando entram no curral para comprar animais, eles valorizam a produção, mas dão preferência aos de bom tipo.

Quanto ao grupo recém formado, que se denominou “GIR LEITEIRO PURO DE ORIGEM", resta saber quais são suas intenções e lembrar-lhes que o mercado às vezes é impiedoso quando determinadas regras são quebradas.

Quero finalizar dizendo que não sou apologista do purismo anti-econômico, acredito que a raça Gir é de dupla aptidão, mas os animais não devem ser de dupla aptidão, ou seja, cada animal deve ser selecionado e direcionado para uma aptidão: leite ou corte.

Conclamo os criadores que ainda não tomaram a decisão de qual aptidão selecionar, que o façam o mais rápido possível, pois o mercado não espera.

Assim aboliríamos a expressão GIR DUPLA APTIDÃO e teríamos a paz com: criadores selecionando GIR “CORTEIRO” e GIR LEITEIRO.

Um abraço a todos.


Gilmar Cordeiro é médico veterinário,
Criador de Gir na Fazenda Iporê, em Goiânia (GO) e
Estância São Jorge, em Dores do Indaiá (MG)

gilmarcordeirodesousa@gmail.com

7 de jan. de 2008

QUAL É O TRANSMISSOR DO LEITE? III

O Gir é uma raça leiteira

Guarapari (ES) – Quem escreve um longo artigo desta vês é o criador Roberto Balsanello (foto), de Guarapari, no Estado do Espírito Santo. Roberto tece um longo comentário, bem fundamentado sobre o artigo de José Alfredo Barreto publicado aqui em Girbrasil.

Prezado Zé Alfredo e outros companheiros criadores,

Muito respeito suas opiniões, porém venho aqui tentar discordar um pouquinho de algumas.

Vou colocar algumas passagens com alguns adendos para o texto muito bem escrito pelo José Alfredo Barreto. Em alguns momentos, até o que escrevi aqui estão no texto dele posteriormente.

1- No cruzamento do Gir com o holandês (girolando), qual das duas raças é a transmissora de leite? O holandês concorre com o quê?... O zebu concorre com o quê?”
Para se atingir resultados econômicos desejados, o bom senso indica que o caminho há muito encontrado é o cruzamento entre o gir e o holandês: espécies distintas e, se oriundas de linhagens bem trabalhadas, com certeza se obterá resultados funcionais espetaculares, não só leite, mas carne também.
Demais disso, - complementando - se a heterose nada cria senão fazer ressaltar atributos funcionais, é de se concluir que quanto mais tipificadas e ou caracterizadas as duas espécies (gir/holandês), mais satisfatório há de ser o resultado.”

COMENTÁRIOS:
Tecnicamente sabemos que o holandês vai nos dar leite, persistência de lactação, melhoria reprodutiva e facilidade de ordenha principalmente. O gir vai contribuir com rusticidade (neste quesito entram vários fatores de adaptabilidade aos trópicos), e sim, aumento de sólidos no leite.

Quando o senhor diz que são espécies diferentes, é um engano, pois se fossem diferentes, os produtos seriam estéreis, na verdade são da mesma espécie, porém de sub-espécies diferentes, sendo o taurino: Bos taurus taurus e o Zebuíno: Bos taurus indicus.

Quanto a questão da heterose, acima afirmado, sou da linha de se acasalar uma genética de alta produtividade, com animais muito tipificados quanto a produção de leite do holandês, com animais de genética conhecidamente de boa produção do gir. Lembrando que, os animais muito caracterizados do holandês (vejamos a genética canadense), não tem uma boa tipificação de leite igual ao holandês americano. Uma vez que sabemos que os canadenses priorizam na maioria das vezes a beleza e padrão racial e os americanos a alta produtividade aliada a tipificação leiteira.

2- “DEPARA-SE COM O SEGUINTE QUADRO. A consangüinidade não compraz com interesses imediatos. Apura, geneticamente, tanto as qualidades quanto os defeitos, permitindo, com o seu emprego, a obtenção de linhagens; raçadores e a criação uma diversidade genética.”

COMENTÁRIOS:

Vinha escrevendo tudo coerente, quando se chega ao ponto e escreve que a ‘consangüinidade permite a criação de uma diversidade genética’. Oras bolas, se tem consangüinidade, diminui a diversidade genética. Isso é óbvio.

3- “Para se fazer uma pecuária produtiva, destinada ao pleno abastecimento, seja de leite ou de carne, não se pode abdicar da Raça Gyr e ainda, equivocadamente supor que essa raça poderá substituir outras ou ser substituída. Mas através de um gir conformado à realidade e não um gir que existe apenas em nossa imaginação, o que conseqüentemente se faz uma exarcebada exigência de seu desempenho, exigindo dele muitíssimo além de sua potencialidade. É que, por ser o Gyr dentre os zebuínos, aquele que mais dá leite, equivocadamente somos levados a situá-lo como raça leiteira, sendo que, na verdade, o Gyr é uma raça boa de leite.”

COMENTARIOS:

No 1º parágrafo, discordo do senhor no quesito leite e carne. Gir é pra leite e ponto final, mesmo o padrão, o padrão ta começando os testes de progênie, e vai vir pra leite e com raça! O gir poderá sim substituir outras raças no futuro, talvez nos meus netos, bisnetos ou mais pra frente, é óbvio. O holandês, o jersey, tem mais de 400 anos de seleção, o Gir tem nem 1 século ainda (observando quesitos produtivos). Temos muitos anos atrás, mas que com as tecnologias, vamos correr por fora, mas vamos chegar a um patamar muito alto.

No 2º parágrafo, diz que estamos exigindo muito além da potencialidade, estive tentando achar aqui o trabalho apresentado no 8th International Workshop on the Biology of Lactation im Farm Animals, feito pelo competente Prof. João Negrão, mostrando toda bomba hormonal na hora da ordenha, e parâmetros, mostrando que o GIR tem sim potencial, porém falta a seleção, esse trabalho é muito bom!

O Gir sim é uma raça leiteira, raça leiteira carro-chefe do Zebu. Vamos selecionar!

O 2º texto o senhor trouxe outras afirmativas, que me permita discordar de algumas (como o mundo ia ser chato se todo mundo pensasse igual, né?)

Quando o Senhor fala que seleção só se faz com endogamia, endogamia é perigoso demais, uma vez que segundo Faria (2002)* – “ Para viabilizar os programas de melhoramento genético, torna-se necessário conhecer os diferentes fatores que potencialmente interferem no processo seletivo. O tamanho efetivo da população é um dos que chamam a atenção, pois seu decréscimo pode estar associado ao aumento do nível de endogamia. Isso ocorre principalmente em razão do uso intensivo de alguns poucos touros melhoradores nos rebanhos e do aumento observado da variância do número de progênies por reprodutor em gerações sucessivas. Endogamia alta implica redução da variabilidade genética, o que afeta as características relacionadas à reprodução e ao valor adaptativo dos animais, e a expectativa de se obter resposta futura à seleção.”

*FARIA, F.J.C. Estrutura genética das populações zebuínas brasileiras registradas. 2002. 177f. Tese (Doutorado em Medicina Veterinária) – Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG.

Seleção de uma raça deve-se utilizar a maior variabilidade possíveis de touros para conseguir uma variabilidade genética e melhores resultados, ou seja, sim, heterose dentro de uma própria raça, uma vez que as linhagens (aí a importância da endogamia feita por alguns criadores, um exemplo o gado EVA iniciado por seu estimado sogro e que hoje o senhor dá continuidade).

A endogamia é pode ser usada até 10%, acima disso, começa a aparecer efeitos deletérios pra raça (num trabalho de Cunha e colaboradores, 2006), chegaram à conclusão, que é preocupante esse índice para características de herdabilidade baixa e média, na raça nelore.

Ou seja, fazendo endogamia, vamos ter (como o senhor mesmo disse), aparecimento de características boas e ruins, ou seja, em algum ponto importante para pecuária (por exemplo, reprodução), pode ser deletério. Entendem?

Vejam este trabalho, e vão entender melhor:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-09352006000300015&lng=&nrm=iso&tlng=

Quando o senhor diz que a herdabilidade para produção de leite é baixíssima, é outro engano, sabemos que para produção de leite varia entre 0,15 a 0,24 e que para ser alta tem que ser 0,30, ou seja a herdabilidade é média, e sim, influi muito num acasalamento. Lógico que em ambientes de igual manejo, os animais sofrendo mesmas influências do ambiente.

Apesar destes poucos pontos em que discordo do senhor, o texto está muito bom e é um importante documento para a história da raça Gir. Um grande abraço ao senhor e aos demais companheiros criadores. E ao Rosimar Silva que propicia este maravilhoso espaço para divulgar nossas idéias e aprofundar o debate sobre seleção e melhoramento da raça Gir no Brasil.

Roberto Ximenes Bolsanello

Médico Veterinário – CRMV-ES 700
Especialista em Zootecnia com ênfase em Bovinocultura Leiteira – UFLA / MG
Mestre em Medicina Veterinária com ênfase em Saúde Animal – UNESP, campus de Botucatu-SP.
Inspetor da Associação Brasileira dos Criadores de Gado Jersey – Núcleo ES
Criador e Selecionador de Gado GIR em Guarapari (ES)

Nota do Editor:______________________________________________________

Roberto Bolsanello trabalhando duro, fazendo
diagnóstico de gestação em fazenda de Jersey.

Artigo: QUAL É O TRANSMISSOR DO LEITE?

Zip Eva, típico touro da linhagem EVA, do rebanho de José Alfredo (foto)

O GIR OU O HOLANDÊS?

A endogamia ou consangüinidade, dizem os zootecnistas, “é a pedra de toque de uma raça”, sendo que, através deste método seletivo, é permitido ao criador avaliar o potencial genético de seu criatório: se superiores ou inferiores.
Se inferiores somam-se defeitos; se superiores agregam qualidades. Conclusão: “Condenar a consangüinidade é o mesmo que condenar o detetive que descobre o crime”.
É consensual no meio do criatório de elite que a consangüinidade é um fator deletério, ou melhor, que traz consigo – digamos – problemas genéticos.
Ora, se a endogamia indica a direção certa a se tomar, outro deveria ser o entendimento destinado à consangüinidade.
Trata-se, portanto, de um preconceito que conduz os criadores ao equivocado entendimento de que a endogamia é um desastre. Se o selecionador descartar os animais inferiores e conservar os superiores, estará fazendo seleção.
E assim, não utilizando animais inferiores (esta é a condicionante), a consangüinidade não só pode, mas deve ser utilizada.
CABE QUESTIONAR: o que impõe desprezar? O método seletivo ou o animal inferior?...
Com absoluta certeza trata-se de um preconceito que tem a sua origem instalada numa motivação de fundamento econômico, justificado em razão de o acasalamento heterozigoto proporcionar de imediato resultados funcionais bem favoráveis sem os naturais riscos de uma seleção consangüínea.
No cruzamento do gir com o holandês (girolando), qual das duas raças é a transmissora de leite? O holandês concorre com o quê?... O zebu concorre com o quê?...
Para se atingir resultados econômicos desejados, o bom senso indica que o caminho há muito encontrado é o cruzamento entre o gir e o holandês: espécies distintas e, se oriundas de linhagens bem trabalhadas, com certeza se obterá resultados funcionais espetaculares, não só leite, mas carne também.
Demais disso, - complementando - se a heterose nada cria senão fazer ressaltar atributos funcionais, é de se concluir que quanto mais tipificadas e ou caracterizadas as duas espécies (gir/holandês), mais satisfatório há de ser o resultado.
OU ESTOU – PERGUNTO – QUERENDO INVENTAR NOVAMENTE A RODA?...
Tudo o que até agora foi exposto é no sentido de demonstrar os resultados econômicos de uma atividade que, se tivesse o concurso dos órgãos governamentais a nossa pecuária, poderia estar em patamar diverso.
Além da heterose, há de se agregar aos criatórios produtores de leite com características tais que, além da adaptação ao nosso clima tropical, outras deverão estar sobrevir: intervalo entre partos; lactação prolongada; a gestação não se interrompe e muito menos inibe a produção de leite, etc. e, claro, mansidão, o que só se consegue com uma seleção bem articulada e divorciada de interesses imediatos.
Faço tais considerações, evidentemente destituídas de autoridade técnica, porquanto, sendo apenas um criador, conduzo e fundamento minhas opiniões assentadas na permanente observação de um trabalho que me fascina (o de selecionar), diante do qual às vezes tropeço; mas sempre procurando, com persistência, recolher destes tropeços experiências que me permitam errar menos.
Diante das imensas dificuldades que a tarefa de selecionar nos reserva, mas, lado outro, obstinado a produzir um gir de verdade, é que venho “de quebra” aprendendo coisas.
Como por exemplo, que “grau de sangue” é a mesmíssima coisa que composição genética e que apenas quantifica a proporção de genes das raças ou linhagens levadas a cruzamento, mas, de forma nenhuma, reflete a qualidade desses genes.
Conseqüentemente por inexistir essa vinculação, o bom senso indica que a seleção há de ser por eficiência e nunca por grau de sangue.
Daí é que, a prática mais difundida em nosso país é a do cruzamento entre a raça Holandesa, reconhecidamente a melhor raça leiteira do mundo, e, dentre os zebuínos, em especial, o Gyr.
E PORQUE ESTA TENDÊNCIA? Em primeiro lugar porque a produção de leite e a reprodução do zebuíno, comparativamente com a holandesa, são baixíssimas; em segundo lugar porque, em compensação, o zebuíno é aquele que se adapta, e muito bem, em clima tropical, o que já não ocorre com a raça holandesa.
A PAR DE TAIS REALIDADES, foi-me permitido assimilar e compreender que o trabalho seletivo voltado para produção leiteira, E AGORA ME REFIRO AO GYR, além das limitações impostas pela baixíssima herdabilidade que este trabalho proporciona, traz em seu rastro uma situação de correlações que fazem submergir uma potencialidade a fixar outras características, as quais desatendem ao objetivo proposto, ou seja, uma rês que seja boa de leite, ajustada ao padrão racial e, especialmente, com uma boa “carga genética”.
Claro que algumas existem, contudo não é a regra. O que vale dizer: a transmissibilidade das características zoológicas, que são de alta herdabilidade, mas que, diante da heterozigose, essas características que são morfológicas, se estiolam, ou melhor, fogem do padrão.

DAR LEITE É FÁCIL, TRANSMITIR É O PROBLEMA.

AO BUSCARMOS O ACASALAMENTO entre raças puras voltadas à obtenção de uma satisfatória produção de leite, com certeza teremos de submeter a seleção do zebuíno, no caso o Gyr, direcionada a aumentar a homozigose, ou seja, viabilizar a reprodução de suas características de forma mais uniforme em conseqüência do emprego da endogamia.

DEPARA-SE COM O SEGUINTE QUADRO. A consangüinidade não compraz com interesses imediatos. Apura, geneticamente, tanto as qualidades quanto os defeitos, permitindo, com o seu emprego, a obtenção de linhagens; raçadores e a criação uma diversidade genética.
Além de todos estes obstáculos - não há como se negar - é uma empreitada que está submissa a um trabalho lento – lento mesmo - que impõe a quem o assume muita determinação, perseverança, humildade e, sobretudo a incerteza de resultados financeiros favoráveis.
Por isto mesmo é que muitos são os “selecionadores” que se deixam abater no curso da empreitada e, se amofinando, passam a adotar “atalhos” que terminam por mascarar, ou melhor, contaminar o projeto de origem no que vale um alerta: atalho não tem volta.
Cumpre, sobretudo e principalmente, registrar. O criador que se propuser a executar um trabalho desta envergadura, há de ter em mente não só observância, mas submissão às leis da natureza e que as mudanças biológicas devem se submeter a um ritmo natural, como natural são as águas dos rios que correm para o mar.
Se assim o for, podemos ter a absoluta convicção e certeza de que a Raça GYR não ficará vulnerável às incertezas e inconseqüências - as mais danosas - vitimada por procedimentos calcados e baseados em dados e informações incapazes de dar uma real contribuição ao processo seletivo da raça, mas, se contrariamente o for, estar-se-á a promover uma fictícia aceleração no “melhoramento” da raça.
Para se fazer uma pecuária produtiva, destinada ao pleno abastecimento, seja de leite ou de carne, não se pode abdicar da Raça Gyr e ainda, equivocadamente supor que essa raça poderá substituir outras ou ser substituída.
Mas através de um gir conformado à realidade e não um gir que existe apenas em nossa imaginação, o que conseqüentemente se faz uma exarcebada exigência de seu desempenho, exigindo dele muitíssimo além de sua potencialidade.
É que, por ser o Gyr dentre os zebuínos, aquele que mais dá leite, equivocadamente somos levados a situá-lo como raça leiteira, sendo que, na verdade, o Gyr é uma raça boa de leite.


José Alfredo Barreto
Residente na cidade de Sete Lagoas (MG),
é criador de Gir, linhagem EVA, no município de Curvelo (MG).
É genro de Evaristo de Paula, de Curvelo (MG), criador do Gado EVA.

Lote de novilhas EVA na fazenda Caraíba, Curvelo (MG).

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Aproveita e comente este artigo no link “comentários” abaixo, ou por e-mail: rosimardogir@gmail.com

2 comentários:

José de Castro disse...

Concordo em parte com o artigo.
Primeiramente, discordo da afirmação "Gir não é raça leiteira, mas boa de leite". Não fosse raça leiteira, não alcançaríamos médias reais (sem artificialismos) de 4 a 5 mil quilos de leite em lactações médias de 330 dias. Somente uma raça leiteira tem persistência de lactação. Contrariando novamente nosso companheiro Girista, quando afirma: "Dar leite é fácil, o difícil é transmitir", afirmo que "dar leite é da natureza dos mamíferos", incluindo morcegos e baleias, o difícil é "produzir leite". Aí reside a grande diferença. Produzir leite significa explorá-lo como produto comercial de forma viável e sustentável. O Gir Leiteiro faz isso. Não sem antes ter passado por um processo objetivo de seleção, lento, mas contínuo, através de várias gerações. Hoje o que vemos nos resultados publicados não é empírico, mas técnico. O próprio Teste de Progênie demonstra isso e muito mais, permite aperfeiçoar o fenótipo para produção de leite, avaliando características produtivas e não apenas conceitos de beleza.

José Alfredo Barreto disse...

Rosimar: não quero polemizar. Vou acreditar nas produções de leite afirmadas. Todavia pergunto ao prezado companheiro girista que opinou quanto às minhas considerações. Realmente somos empíricos, mas será que a técnica estaria sendo bem empregada ?... Se os testes de progênie que menciona e nos quais se escora, questiono se cumpriram religiosamente o procedimento que os torna confiáveis; porquanto, sabe-se, que o objetivo do teste de progênie é o de avaliar os méritos genéticos dos reprodutores , livres de toda e qualquer influência. Para credibilidade deste teste duas são as condições básicas: vacada e manejo uniformes. Uniformizadas e igualadas as oportunidades (vacada e manejo), você terá a medida exata para avaliar se o teste é ou não confiável. Poder-se-ia afirmar a regularidade nos testes ?... Há uniformidade na vacada ?... gyr ? Girolanda ? Holandeza ?

QUAL É O TRANSMISSOR DO LEITE? II

Goiânia (GO) – recebi e-mail de José Alfredo Barreto, de Sete Lagoas (MG), tecendo algumas considerações acerca do seu artigo QUAL É O TRANSMISSOR DO LEITE?, publicado aqui no Blog Girbrasil dia 25 de novembro, domingo. Se você ainda não leu o artigo, aproveita o estímulo e leia. Se achar que pode contribuir com essa discussão, deixa um comentário ao artigo

"Prezado Rosimar Silva,

Parece-me que o meu texto não foi entendido ou não se quiz entender. Os questionamentos que fiz não se dirigem diretamente para o gir leiteiro, claro que indiretamente. O proposto foi, em primeiro lugar, qual é a raça que mais contribui para a formação do girolando? Em segundo lugar, para se produzir uma vaca girolanda produtiva - produtiva mesmo - o criador que faz tal cruzamento necessariamente tem de lançar mão de um gir oriundo de uma seleção voltada a fixar características tais destinadas à formação de tal mestiço; em terceiro lugar, demonstradas as qualidades e insuficiências, tanto do holandês quanto do gir, aquele, no que se relaciona às insuficiências, questões climáticas, esse, no que diz respeito às seus desempenhos, biológicas, e, assim, juntados "os cacos" a pecuária nacional "descobriu" o girolanda; em quarto lugar, que seleção só se faz com a endogamia; em quinto lugar, que a heterozigose faz "explodir" aptidões funcionais (carne e leite); em sexto lugar, a baixíssima herdabilidade do leite e, por fim, o desafio que é a seleção leite; conquanto a baixa herdabilidade somada ao único processo seletivo capaz de construir, seja uma raça ou uma linhagem dentro de uma raça, é a endogamia e pelo que se vê os leiteiros, à unanimidade, confrontando o método (veja o convite recente da Assogir) lamentando a consangüinidade (!!!) existente ... no rebanho leiteiro”.


ARTIGO: Leite derramado - Xico Graziano

Há males que vêm para bem. O recente escândalo da adulteração do leite vai ajudar na modificação do antigo sistema de defesa agropecuária do País. O Brasil merece trabalho melhor.

O modelo atual é sabidamente ineficiente. Vem desde 1934 a sua conformação, com as primeiras instruções para a inspeção de carnes, leite e seus derivados. Em 1950 surge a lei básica do sistema, obrigando à inspeção sanitária o processamento alimentar. Nasce o Sistema de Inspeção Federal (SIF).

A base do sistema é a chamada inspeção permanente, aquela exercida por médico veterinário oficial, cujo escritório funciona dentro dos laticínios e frigoríficos. O pressuposto é que, com a presença física, ali, no pátio da agroindústria, o profissional verifica, ao vivo, todo o processo. Exerce assim, diretamente, seu poder de polícia sanitária.

No começo, funcionou bem. Poucas eram as empresas, muitos os fiscais sanitários. Vivia-se a época do Estado-patrão. Precários os métodos de controle, difícil a comunicação - afinal, nem fax havia, somente os olhos do veterinário resolviam a parada. Bons anos.

Quanto mais se fortalecia o setor agroindustrial, porém, ganhando escala para atender à urbanização brasileira, a defesa agropecuária encolhia sua eficiência. As empresas e o mercado cresciam em tamanho e complexidade. A fiscalização tradicional, aquela do mano a mano, não dava mais conta do recado. Nem inchando a máquina estatal.

Problema semelhante inquietara muitos países. A saída exigiu mudança do paradigma sanitário. Em vez de fiscalizar diretamente na ponta do consumo, dentro da empresa, a legislação repassou aos próprios empresários a tarefa do controle sanitário. E sacramentou ao governo a função dos supervisores, por meio de auditorias aleatórias.

Riscos sanitários em toda a cadeia produtiva, e não apenas na ponta final, passaram a ser investigados. Essa migração configurou novo método de trabalho, intitulado Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC). Coube às empresas adotar o novo sistema. E os governos garantem sua credibilidade.

No Brasil, o corporativismo jamais permitiu tal modernização. Os técnicos preferem manter seu "poder de polícia" a repartir com a iniciativa privada a responsabilidade pela qualidade dos alimentos processados. O discurso atrasado é forte: supondo-se impolutos e onipresentes, argumentam que as parcerias privadas significam uma subversão da estrutura natural do Estado. Parece coisa getulina.

Já surgiu, no governo de Fernando Henrique Cardoso, proposta para criar uma Agência de Defesa Sanitária no País. Não vingou. Continua, com alguns aperfeiçoamentos, dominando o paradigma antigo. Resultado: o sistema acabou precário, por culpa não propriamente dos veterinários, mas do modelo ultrapassado de fiscalização.

A política de empurrar a sujeira para debaixo do tapete engana há tempos. Entram e saem ministros da Agricultura sem que a poderosa corporação sanitária seja enfrentada. Na gestão do então ministro Roberto Rodrigues, desgraçadamente, ressurgiu a febre aftosa, afetando Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo. Percebeu-se, claramente, que o sistema de defesa agropecuária do País estava em frangalhos.

Agora, rolou o leite derramado. Uma vergonha pública. A fraude dos laticínios prova, definitivamente, que o velho sistema está falido. Virou um faz-de-conta. A isenção na fiscalização, imaginada a partir da presença fixa do profissional dentro da empresa, também suscita dúvidas. Afinal, a fraqueza humana não escolhe lugar.

O assunto lembra as auditorias da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) na década de 1970. Projetos de pecuária bovina, espalhados na selva, somente permitiam acesso por via aérea. E os fiscais do governo, a pé, pegavam carona no avião dos empresários para verificar o correto uso do dinheiro público. Os laudos eram, obviamente, favoráveis. Nunca viram a dinheirama desviada.

O tema da fiscalização sanitária é tabu no Brasil. Falta coragem para pôr o dedo na ferida. Tudo se abafa em nome do interesse nacional. Ocorre que, nesta época de árduas negociações internacionais, reconhecer as fraquezas internas pode significar "um tiro no pé". Causam tremedeira, por aqui, as investigações das missões estrangeiras. Seus duros relatórios fomentam a guerra comercial, entremeada com questões sanitárias, como procedem os malandros irlandeses.

A pecuária leiteira cumpre uma agenda positiva, discutida há dez anos, finalmente estabelecida na Instrução Normativa 51, de 2002. Esta impõe melhorias na cadeia produtiva, desde a ordenha até o resfriamento, agora obrigatório. O bucólico e mal asseado latão de leite na beira da estrada teve seus dias contados. Ainda bem.

Essa evolução tecnológica abriu as portas do mercado internacional. De grande importador - em 1998 foram cerca de US$ 500 milhões -, o Brasil começou a exportar leite e derivados. Em 2006 arrecadou US$ 140 milhões em divisas. Esse bom trabalho levou uma bordoada dos picaretas da soda cáustica.

O SIF está numa encruzilhada. Precisa vencer seu corporativismo e se abrir para as novas tecnologias de controle sanitário. Nesse processo, os serviços estaduais de defesa sanitária, sempre desprezados por Brasília, merecem apoio. E os empresários do setor que arquem com sua responsabilidade. Lição de casa, para todos, a cumprir.

Na sanidade animal, antes tarde que nunca, chegou a hora da verdade.

Xico Graziano
Secretário de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos,agrônomo e já foi presidente do Incra (1995) e secretário da Agricultura de São Paulo (1996-98).