21 de jul. de 2009

Gir: dupla aptidão?




Conhecemos a raça gir, como raça de duplo propósito. Muito bom, sensacional... Os filhos de qualquer touro da raça irá produzir fêmeas muito leiteiras e machos muito carnudos, são os super indivíduos; para completar isso tudo, sem comer ração, só no pasto, mais sensacional ainda.

Porque isso não ocorre na prática?

Pior, por que ambas as aptidões são questionadas, quanto à “produtividade comercial”?

Quando falamos em carne, a primeira lembrança é da raça nelore, “... nunca vamos competir com o nelore..., quando falamos em leite o que vem é o girolando “...Por que não nos preocupamos com o girolando que é adaptado e produz muito mais...”.

Seria redundância dizer aqui que o mundo mudou, que o sistema esta globalizado, etc, mas essa realidade precisa chegar até nós, ai fica fácil de entender esse fracasso do duplo propósito em um mesmo animal e nas propriedades produtivas que acham que conseguem lucrar com o leite (medíocre) e com a venda do bezerro guaxo.

Se analisarmos, hoje as tecnologias são de fácil acesso com custos totalmente acessíveis, e em contra partida a exigência de qualidade e produtividade estão cada vez mais insuportáveis, digo insuportável, por que com esse sistema globalizado, quem não da conta do que se exige, ta fora, infelizmente, o romantismo e preciosismo, não pagam as contas.

O que quero dizer com isso, o sistema de produção com esse profissionalismo, não permite pequena produtividade, exigindo especialização cada vez mais, começando da alimentação, passando pelo manejo e sanidade e é claro chegando até a genética. E é ai que o bicho pega, ou seu animal suporta aquele sistema de produção que é necessário para essa “competição” ou, como já disse, dança. É o tal do custo-benefício.

A especialização zootécnica é inevitável, animais, precisam dar conta do recado, e ai nesse caso eu não preciso de um animal que faça um pouco de tudo e sim do animal que faça tudo do pouco.
As aptidões são desafiadas a cada geração, e a cada geração, são especializadas e definidas para que façam esse “tudo do pouco”.

Agora a riqueza da raça Gir é exatamente essa, a raça é capaz de escolher, selecionar e obter indivíduos especializados em carne e indivíduos especializados em leite; ou seja, é uma raça de dupla aptidão com indivíduos com aptidões particulares e definidas (ou leite ou carne).

Não podemos correr se o risco de eleger os “super heróis”, que supostamente produzam leite e carne. Lembro: onde deve ter um úbere produtivo, não conseguimos encontrar massas musculares evidentes, e obviamente onde encontramos massas musculares evidentes não sobra espaço para um úbere produtivo.

Sejamos profissionais, observemos os erros e acertos do passado olhando para frente, não para traz. Não corramos o risco de fazermos o papel do “super pato”, que tem a capacidade de voar, nadar e andar, mas que, voa, nada e anda, muito mal, sem competitividade nenhuma.




José Agusto Barros
Médico Veterinário
Jurado Oficial da ABCZ
Conselheiro Técnico da Assogir
Criador de Gir Aptidão Corte e Nelore