28 de abr. de 2009

O Leite A



José Luiz Moreira Garcia (*)


Não é novidade para ninguém que o leite de vaca esteja causando alergia às pessoas. Não estou falando de intolerância a lactose (o açúcar do leite) por falta de lactase (a enzima que digere a lactose), pois esse é um fator mais ligado a herança genética, mas sim de alergia propriamente dita, ou seja, uma reação imunológica gerada pelo nosso corpo a proteínas do leite.

Para explicar esse fenômeno o que não faltam são "profetas de plantão" geralmente oriundos das escolas e vertentes de pensamento naturebas com explicações do tipo: " o homem é o único animal no mundo que toma leite na idade adulta". Essa frase dita e repetida "ad nauseum" por "gurus" nutricionais e até mesmo por alguns médicos desavisados, soa bastante verossímil.

Essa explicação aparentemente correta sempre desafiou a minha modesta inteligência. Me explico: Como descendente direto de ibéricos sou geneticamente equipado para desconfiar de tudo e de todos. O " Hay gobierno ? Soy contra" está intimamente amalgamado no meu DNA.

Decidi estudar o leite de vaca na evolução da espécie humana. Decidi também estudar a veracidade da afirmação natureba. Logo de cara descobri que o homem é o único animal de toma leite na idade adulta por ser dotado de livre arbítrio.

Descobri que até pássaros tomam o leite de vaca, passando por cachorro, gato, e o que mais for e até mesmo o próprio gado, se o leite, a eles, for oferecido. Hipótese cada vez mais remota com o preço do leite nos patamares atuais.

A razão do bezerro/a não tomar leite de vaca após uma certa idade, é que a um determinado ponto a vaca, sabiamente, dá um “basta!” não mais permitindo ao seu rebento esse privilégio para que o mesmo por si próprio passe a se alimentar de capim, o alimento preferencial para o qual o gado bovino está geneticamente aparelhado para garantir a sua subsistência . Nesse momento a vaca sabiamente passa a hostilizar a própria cria, pois irá necessitar de toda a sua energia para gerar a próxima cria. É apenas mais uma faceta da natureza sábia.

Descobri, igualmente, que o homem toma leite de vacas há mais de 10.000 anos e que nunca teve problemas de alergia nos últimos 9.900 anos. Descobri também, que o leite de vaca foi fundamental para o desenvolvimento da própria espécie humana, tirando dos homens parte do trabalho diário de obter alimentos, quer pela caça quer pela coleta de alimentos.

O que estaria acontecendo hoje em dia, então ?

A resposta pode estar em uma descoberta recente por parte da ciência. Os pesquisadores descobriram que todas as fêmeas, incluindo a mulher, cabra, égua, camela, etc... produzem , no leite, uma proteína denominada Beta caseina A2, mas que, a aproximados 10.000 anos atrás, algumas vacas sofreram uma mutação genética e passaram a produzir também uma proteína denominada Beta Caseina A1. A única diferença entre as duas proteínas é apenas um amino acido na 67ª posição entre 203 amino ácidos que compõem as duas proteínas. A Beta Caseina A1 possui uma histidina enquanto que a Beta Caseina A2 tem uma prolina na 67ª posição.

Entra uma histidina no lugar de uma prolina, e como a natureza é caprichosa, essa aparente pequena diferença faz com que a proteína seja clivada ( quebrada ) nessa posição dando origem a um peptídeo (parte de proteína) denominado "Beta Caso Morfina A7" por ter uma estrutura química semelhante a morfina.

É criado no estomago, por meio da digestão ácida, um opiáceo.

Segundo vários autores, as Beta Caseinas A1 e seu peptídeo, principalmente um denominado Beta Caso Morfina 7 estariam implicadas em uma serie de reações alérgicas.

Estudos europeus demonstraram estar esse peptídeo associado a casos de autismo, morte súbita e diabetes tipo-1 em crianças e problemas coronarianos, problemas neurológicos e colesterol elevado em adultos.

Esse fato fez com que os pesquisadores estudassem todas as raças bovinas e descobrissem quais as que produziam uma maior quantidade de leite A1 e A2.
Uma pesquisa genética de nossos patrícios da USP de São Carlos demonstrou que todas as raças zebuínas ainda produzem leite A2 na sua quase totalidade (números bem próximos a 100%), não tendo sido afetadas por aquela mutação genética. Ponto para os criadores de Gado Gir Leiteiro. Além das características já conhecidas de rusticidade e resistência a parasitos externos aparece agora mais essa vantagem, o leite do Gir é não alergênico.

Nas raças taurinas (européias) apenas a raça Guernsey, que já foi a raça leiteira mais criada no Brasil e infelizmente se extinguiu devido a vários fatores e que agora está aumentando a nível mundial, produz exclusivamente o Leite A2, ficando a raça Jersey em segundo lugar com 75% de leite A2 e 25% de leite A1 alergênico e a raça holandesa com 50% de leite A1 e 50% de leite A2.

Como em todas as descobertas científicas que colocam em cheque o sistema estabelecido essas descobertas também estão sendo e irão ser combatidas como sempre foram pelos cientistas de aluguel, mídia de aluguel e finalmente por olíticos/legisladores de aluguel vendidos aos interesses econômicos contrariados. A título de ilustração vejam o que está acontecendo com a idéia que propõe a utilização de sacolas de supermercados feitas com material biodegradável e vejam os argumentos usados pela industria de plástico poluente para a manutenção da sua sobrevivência.

Uma outra hipótese nos chama a atenção para o manejo e a alimentação das vacas leiteiras nos últimos 60 a 70 anos. A bem da verdade é bom que se diga que as vacas leiteiras evoluíram comendo capim. São seres pastejadores herbívoros. Deveriam, portanto, se alimentar preferencialmente de capim. Certo? Errado!

As vacas leiteiras, hoje em dia, comem quase tudo menos capim. Vejam por exemplo alguns exemplos de componentes da dieta exótica das vacas leiteiras nos últimos 70 anos:
- Esterco de galinha (proibido, mas ainda utilizado na clandestinidade no Brasil) - Caroço de Algodão
- Polpa de Laranja (sub-produto industrial)
- Farelo de Soja
- Uréia, Sulfato de Amônio (derivados de petróleo)
- Farinha de Carne (hoje proibida)
- Farinha de Penas (hoje proibida)

Finalmente após todo esse cardápio indigesto vocês não poderiam ficar surpresos se eu lhes contasse que 80% de todo o Bicarbonato de Sódio produzido nos EUA sejam utilizados na alimentação de vacas de leite.
Haja Bicarbonato de Sódio!!!!

O homem descobriu um atalho para a pobreza dos nossos solos e ao invés de fertilizar os solos prefere dar aos animais diretamente os sais que na verdade deveriam ser usados como adubos de solo.

Se as duas hipóteses estiverem corretas qual seria a vaca que teoricamente produziria o leite mais alergênico ?

Exatamente! A vaca holandesa que produz mais proteína A1 alimentada com a dieta exótica que é utilizada nas fazendas-fábricas que são preconizadas pelo status-quo técnico-científico do chamado agro-negócio, que insiste em tentar reduzir todas as tarefas biológicas a meros produtores de moeda corrente sem levar em consideração as necessidades fisiológicas de cada espécie animal, isto é , uma dieta altamente acidificante e geradora de problemas já bastante conhecidos de todos os criadores de gado leiteiro, a saber, laminite, indigestão, empanzinamento, abomaso desalojado, baixa longevidade ( vida curta), etc...

Também, não poderiam ficar surpresos se eu lhes disse-se que a média de lactações de uma vaca nos Estados Unidos, a Meca do conhecimento científico e onde todos os técnicos e cientistas brasileiros se espelham, é de apenas 1,8 lactações ou até menos. Não é para menos.

Mas, afinal, quem se importa?

O Status Quo acadêmico-científico nos diz o que é certo e o que é errado e o que conta no fim do dia é produzir mais leite não importando as conseqüências.
Entretanto, vamos admitir por um átimo de tempo que ambas as hipóteses poderão estar corretas. A Nova Zelândia já se adiantou a registrar o nome "A2 Milk" e está certificando laticínios ou fazendas que trabalhem exclusivamente com Leite A2 determinado por meio de exame de DNA dos animais do rebanho e normas de manejo que contemplem o livre acesso dos animais ao pasto, luz solar e ar livre dos animais em lactação.

No mundo todo consumidores conscientes estão demandando alimentos cada vez mais produzidos de forma ecologicamente correta e leite produzido em fazendas-fábricas de gado holandês criado em confinamento (também ironicamente chamado de Free-stall) recebendo dieta exótica e acidificante que produz leite alergênico não é propriamente o que se pode chamar de ecológico e nem de correto ou até mesmo de salutar.
Asneira ! Non-Sense ! Irão protestar o sistema e as autoridades constituídas.
O tempo dirá quem está realmente com a razão.

Da minha parte eu posso lhes garantir que estou trabalhando para ter o meu leite de vacas Guernsey, Jersey e Gir ou giradas que comam preferencialmente pasto ou feno produzidos em solos remineralizados com altos teores de fósforo, cálcio, magnésio e potássio e com teores expressivos de ferro, manganês, zinco, cobre, boro, cobalto e molibdênio e com uma microbiologia ativa para garantir um bom suprimento de húmus que irá se contrapor as secas e estiagens, cada vez mais freqüentes, e gerar plantas mais sadias e nutritivas.

Talvez um dia, quem sabe, algum consumidor mais exigente irá dar valor ao meu produto. Antes tarde do que nunca!

(*) O Autor é formado em Agronomia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e tem Mestrado em Bioquímica e Fisiologia de Plantas pela Michigan State University. Também é criador de Gado Guernsey e Jersey no Sul de Minas.


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