1 de dez. de 2009

Técnica do ovário artificial promete alta produtividade a baixo custo


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No Brasil, uma pesquisa inédita promete reproduzir in vitro um ambiente favorável para o desenvolvimento e maturação de óvulos visando a fecundação e produção de embriões em larga escala no futuro a partir de animais melhorados. A técnica denominada de Ovário Artificial objetiva produzir embriões em larga escala sem incomodo para o organismo materno e a um baixo custo.


O estudo é desenvolvido pelo pesquisador José Ricardo de Figueiredo e sua equipe, na Faculdade de Veterinária (Favet), da Universidade Estadual do Ceará (Uece), há três anos. Entretanto, José Ricardo disse que realiza estudos na área há cerca de 20 anos, desde o início de sua carreira acadêmica. Até agora, o grupo de pesquisadores já conseguiu fecundar quatro óvulos a partir da técnica do ovário artificial. O embrião encontra-se em análise no Laboratório de Manipulação de Oócitos e Folículos Ovarianos Pré-Antrais (Lamofopa), da Favet, no Campus do Itaperi.

O estudo já recebeu investimentos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio) na ordem de R$ 900 mil. Além desses, financiam o projeto, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico (Funcap).

Figueiredo acrescentou ainda que empresas fabricantes de medicamentos já cogitam a possibilidade de se utilizarem da técnica do Ovário Artificial para testes de substâncias. Além disso, a pesquisa permite tornar férteis as mulheres que tiveram algum problema de reprodução.

"Essa técnica desperta grande interesse na reprodução medicalmente assistida em humanos, porque também poderá preservar o bem-estar da mulher, reduzindo o risco de transmissão de doenças como o câncer, por exemplo, por ser uma alternativa aos enxertos de ovário para restauração da fertilidade em mulheres", afirma.

A descoberta da técnica, cientificamente chamada de biotécnica de Moifopa, é que trabalha com óvulos não crescidos que estão armazenados nos chamados folículos pré-antrais, isto é, folículos sem antro, obtidos a partir de ovários de caprinos em matadouros por meio de técnicas especiais. "O folículo secundário cresceu e maturou in vitro. Após ser fecundado, gerou um embrião viável que se desenvolveu até a fase de mórula, ficando pronto para a transferência em uma fêmea receptora", disse.

De acordo com o pesquisador, naturalmente o ovário disperdiça uma grande quantidade óvulos. Só um em cada mil óvulos (0,1%) consegue chegar até ovulação. Os demais óvulos (99,9%) morrem por um processo denominado de atresia folicular. Isto ocorre porque no ovário há limitação de espaço e uma grande competição entre os folículos por nutrientes, hormônios e outras substâncias que são limitados.

Para Figueiredo, a intenção é evitar as mortes. "A técnica do ovário artificial visa recuperar dos ovários os óvulos não crescidos contidos nos folículos pré-antrais antes de sua morte e colocá-los dentro de meios de cultura apropriados mantidos em incubadoras de modo a bloquear a morte dos óvulos e assegurar o seu crescimento e maturação e posterior fecundação in vitro. Em outras palavras, o biotécnica do ovário artificial visa recriar um ovário in vitro mas com uma eficiência maior que o ovário natural", enfatizou.

Para o cientista, no futuro, enquanto um animal vive tranquilamente no pasto, seus óvulos podem estar em desenvolvimento em algum laborátorio. "Imagine esta tecnologia no futuro: uma vaca tranquila no pasto enquanto um pedaço de seu ovário a quilomêtros de distância está produzindo óvulos em um ou vários laboratórios sem nenhum desconforto para o animal. Com as devidas adaptações esta situação de conforto e bem-estar também seria proporcionado à mulheres com problemas de fertilidade que recorrem a clínicas de reprodução assistida", ilustrou.

Figueiredo reconheceu que a técnica pode render boas parcerias com outros países. "Devemos fechar uma parceria com a Universidade Livre de Bruxelas, na Bélgica, por meio do pesquisador Johan Smitz, que trabalha diretamente com reprodução assistida em humanos. Na sequência vamos fazer parceria também com pesquisadores de Chicago, nos Estados Unidos", comentou.

O próximo passo do estudo, segundo ele é produzir embriões a partir de folículos em estágios iniciais.

APLICAÇÕES

Entre outras aplicações, o Ovário Artificial possibilita o estudo in vitro do efeito de diferentes substâncias sobre os folículos pré-antrais, visando elucidar os mecanismos envolvidos na regulação da foliculogênese inicial, hoje pouco compreendida. Estes estudos são essenciais para a compreensão da fisiologia ovariana no que tange ao crescimento e maturação de oócitos aptos à fecundação e poderão revolucionar a reprodução animal no futuro.

Em biologia molecular, possibilita assegurar as condições necessárias para identificar e quantificar, nos diferentes compartimentos foliculares, a expressão dos genes que são responsáveis pelo controle do crescimento de folículos pré-antrais e antrais. Na indústria farmacêutica, permite a realização de testes in vitro da ação de fármacos (benéfica ou tóxica) sobre os oócitos, preliminarmente ao seu emprego em experimentos envolvendo animais e seres humanos.

A validação científica do ovário artificial como método laboratorial para testes de drogas e sua posterior aceitação pelos órgãos de governo responsáveis pela liberação de medicamentos trará importantes consequências para o bem-estar animal, uma vez que milhares de animais serão poupados de serem utilizados em experimentos/testes, no que concerne aos testes in vitro.

Em nanotecnologia, oferece um importante modelo para testar a inocuidade de nanopartículas utilizadas no carreamento de drogas de interesse médico. Na implantação de bancos genéticos (germoplasma), o ovário permite uma avaliação precisa da eficiência de protocolos de criopreservação analisando a taxa de sobrevivência e desenvolvimento in vitro de oócitos inclusos folículos pré-antrais previamente criopreservados.

No tratamento de infertilidade, a técnica representa uma alternativa futura para o aperfeiçoamento de meios de cultura visando o crescimento, a maturação oocitária e, consequentemente, a produção de embriões humanos in vitro. Hoje, esses embriões são produzidos utilizando-se procedimentos de superovulação e colheita dos oócitos por punção, gerando desconforto físico e emocional para as pacientes.

Para o bem-estar animal, por se tratar de um modelo exclusivamente in vitro para a produção de embriões, a Moifopa (ovário artificial) contribuirá para o bem-estar animal (redução do estresse), pois representará uma alternativa aos procedimentos de superovulação, colheita de embriões, punção de oócitos por ultrassonografia, bem como ao uso de animais em experimentos. No futuro, a partir de um pequeno fragmento de córtex retirado de um ovário por biopsia, será possível a produção, em laboratório, de centenas a milhares de embriões.

FONTE:Ministério da Ciência e Tecnologia

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