5 de jan. de 2010

Raças Zebuínas, Criadores, Leilões e Leiloeiras no Ano de 2009

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Para aqueles que insistem em ignorar o Regulamento das raças zebuínas, eu digo que a ABCZ e o MAPA sempre estiveram atentas à evolução da raça, introduzindo modificações quando necessárias, e impondo novas normas de forma a não permitir abusos por parte de criadores, associações, promotores de eventos, leiloeiras, assessores e demais atividades relacionadas às raças zebuínas.

O regulamento de 2009 conforme artigo 9, não menciona a raça Nelore Mocha, portanto, não há porque fazê-lo com a raça Gir Mocha, pois o único fato que diferencia os animais é que no Padrão há a presença de chifres, enquanto que na Mocha a ausência total dos mesmos. Fica aqui, uma sugestão à Diretoria da ABCZ para a devida atualização.

A meu ver, feita esta correção, teríamos o Gir como raça única assim como o Nelore, o que viabilizaria os julgamentos de forma unificada e de acordo com as características de cada raça conforme especificado no regulamento da ABCZ. Apenas para informação aos incautos, O CDT da ABCZ ratificou no atual Regulamento, a importância de se aumentar a credibilidade para as provas zootécnicas ( CDP e CL ), assim como seguir rigorosamente o Padrão da Raça. Aprovou ainda, estudo sobre o método de um só julgamento para a Raça Gir nos próximos 5 (cinco )anos.Para os que acham que somente o mercado vai selecionar o que quer, eu digo que é pouco, pois a ABCZ deverá em breve regulamentar os Leilões,comentários técnicos e quem sabe até as Associações.
Às vezes eu me pergunto por que alguns criadores de Gir com seleção voltada somente para leite, se mostram tão irritados e às vezes não muito elegantes, quando digo que o Foro competente para avaliar e julgar os animais são as pistas de julgamento; da importância de se selecionar animais respeitando se as características da raça; de buscar novos rumos para o processo de seleção de animais produtivos; de tornar a produção de leite a pasto uma atividade economicamente viável para o produtor rural, enfim, são temas que tenho tentado abordar, mas que muitas vezes não é bem compreendido por algumas pessoas.

Talvez, por ter uma formação acadêmica na área do Direito, entendo que leis são para serem cumpridas, senão teríamos uma verdadeira desobediência civil, e o mesmo ocorre com regulamentos e normas, se existem é para serem cumpridas, senão vira bagunça.

Por isso, quando leio alguns comentários pertinentes ao que escrevo, onde uns acham que a discussão sobre raça é Retrógrada, outro diz que é o mesmo que comida requentada, vários de que só valorizo cabaça, orelhas e chifres, e sabe-se, não contribuo para o melhoramento da raça, sem falar naqueles que por receber honorários para assessorar criadores em leilões, diz que o comprador tem que tomar cuidado com animais tipo Frigorífico sendo ofertados em alguns leilões, numa nítida alusão ao Gir padrão.

Só falta alguém que se sente incomodado com animais bem caracterizados, produtivos para carne e leite, aprumos perfeitos, oferecer Frete gratuito para transporte e abate de todos os animais e a conseqüente extinção de todos os planteis de Gir padrão do Brasil.
Não existe vaca Gir fértil descartável, pois alem de produzir filhos da própria raça, serve para produzir o verdadeiro ½ sangue com touros da raça holandesa, que transmite às suas progênies, animais dóceis, produtivos e agrega valor na venda dos machos.

É bom que se diga, que nos anos 60 a maioria dos planteis leiteiros do Brasil era da raça Gir, e a maioria dos rebanhos se tornaram mestiços com a introdução de touros holandeses, o que quase tornou extinta a raça por falta de continuidade da seleção de reprodutores bem caracterizados racialmente. Se depender da maioria dos touros que estão atualmente nas principais Centrais do Brasil, vão queimar a raça novamente.

Penso que o maior erro da família Caixeta não foi ter entrado no Gir leiteiro, e sim, ter liquidado o plantel de Gir dupla aptidão, afinal, o capital apurado financiou parte das aquisições de Gir leiteiro nos leilões, e com a inadimplência e devolução dos animais aos vendedores, concretizou-se o prejuízo e a perda do plantel inicial.

Uma coisa é o sentimento humano de não desejar mal a ninguém, outra é confundir não honrar um Contrato com honradez. Abre-se um precedente para aqueles que não ficaram satisfeitos com suas aquisições ou compraram mal fazer o mesmo, afinal, devolver os animais é uma atitude de honradez, honestidade e de muita coragem.

Os vendedores por sua vez, além de ver frustrada as vendas, arcam com despesas de comissões dos promotores e leiloeiras, custo da TV, Buffet e honorários de assessores.
Sempre haverá empresas tipo Frigoríficos, Instituições Financeiras, etc, que de posse de uma grande carteira de credores, provocam grandes prejuízos aos seus clientes e fornecedores, desestabilizando o mercado, da mesma forma que haverá compradores menos esclarecidos e/ou premeditados, que provocam prejuízos aos vendedores. Porque os principais criadores e vendedores de leilão não se manifestam sobre o assunto? Afinal, foram eles quem introduziu este modelo de comercialização em parceria com as leiloeiras, do número de parcelas, do marketing em torno da raça, enfim, aos que chegaram por último nos leilões não resta outra coisa a não ser assinar os contratos e contabilizar o prejuízo.

Enfim, todos os seguimentos da atividade econômica contabilizam seus prejuízos nos balanços por inadimplência, calote e até por ações fraudulentas.

Portanto, nas relações de compra e venda quem tem que se precaver quanto ao recebimento é o Vendedor, pois no caso da pecuária é ele quem cria, contrata, vende e aprova as vendas, e é quem vai receber.

Ao comprador, lhe é assegurado fazer prevalecer os Direitos Básicos do Consumidor conforme Capítulo III do Código de Defesa do Consumidor.

Para continuar o que pretendo abordar a seguir, faço as seguintes perguntas: Quantos promotores e convidados de leilão no ano de 2009 leram integralmente o Regulamento dos leilões? Quantos vendedores somente assinaram o contrato de Compra e Venda mediante criteriosa avaliação do Cadastro do comprador? Na dúvida foi exigido avalista e/ou fiança bancaria? Se você não fez nada disso não fique preocupado, afinal, a maioria dos brasileiros, assinam contratos sem ler o seu conteúdo.

Querer imputar às Leiloeiras a responsabilidade pela inadimplência dos compradores não condiz com a realidade. Se a afirmação vier dos vendedores é porque não leram o Contrato e não tem do que reclamar. Se vier dos compradores pior ainda.

O conteúdo do regulamento é claro e abrangente, pois define a participação de cada um dos envolvidos, trata das comissões da compra e da venda devidas à leiloeira sem %, inclusive a condição de pagamento como sendo à vista por compradores e vendedores.

Com relação aos Cadastros, todos os procedimentos administrativos normais são efetuados, inclusive consulta a órgãos de proteção de credito.

Para concluir o assunto Cadastro, transcrevo a seguir na íntegra, os direitos e responsabilidades da leiloeira e do vendedor na realização de um leilão.

“A Empresa Leiloeira atua como intermediária das transações, sendo responsável pela organização e coordenação do evento, não se responsabilizando pelo inadimplemento do comprador, seja em relação ao valor do animal adquirido, seja em relação às comissões de venda. Portanto, cabe ao vendedor manifestar-se sobre o cadastro do comprador antes da assinatura do Contrato de Compra e Venda, bem como exigir assinatura de avalista antes da formalização do contrato”.

Para os criadores e selecionadores que já tem os seus calendários de leilões, e o fazem com planejamento e organização não muda muito para o ano de 2010, mesmo porque, para quem vende uma promessa de prenhes por 120 mil e livre acasalamento, não tem do que reclamar, a não ser, que o comprador desista da compra, e com muita honradez de volva a receptora vazia.

Para os que iniciaram nos leilões e não foram bem sucedidos, e para os que pensam em realizá-los, é necessário um estudo mais apurado do custo benefício, e não fazê-los apenas por modismo, afinal, a venda de curral quando bem agendada, nunca deixará de ser real alem de ser mais prazerosa.

O problema de quem exerce a Pecuária é falta de Capital e Liquidez Portanto, parcelar os pagamentos em 20 vezes ou mais, é coisa para as Casas Bahia e Instituições financeiras, não para o vendedor que vê o seu animal ser arrematado por 200 reais de parcela em 20 pagamentos iguais. Uma coisa é você disponibilizar em Leilão 250 machos nelore para reprodutores, vender pelo triplo ou mais do valor de abate e fazer uma carteira. Outra é você ser convidado para colocar um animal em leilão, e lá pelas tantas, ser arrematado por um comprador a 2600 km de distância, e o leiloeiro anunciar que o frete é gratuito.

Este modelo de parcelamento não contribui para os negócios dos criadores, e ainda alimenta para os menos avisados, que a venda de curral deve ser também em 20 vezes e entregues em sua propriedade.

No mundo atual não existe lugar para os que pretendem levar vantagens em tudo, e sim, para negócios saudáveis entre comprador, vendedor e parcerias necessárias à prática da ética na Atividade Mercantil, e para isto, é necessário Leis, normas e regulamentos que norteiem a atividade econômica no setor da Pecuária Nacional.


Euclides Osvaldo Marques
Estância do Gir
São José do Rio Preto-SP

Um comentário:

Coronel Yanossauro disse...

Estou boquiaberto.
No meio de tanta declaração apaixonada contra os Caixeta e as leiloeiras, uma voz se levantou para lembrar que a culpa da zona que pode acontecer na pecuária é de quem vende.
E apóio em gênero, número e grau a opinião aqui postada pelo Dr. Euclides.
E gostei de três colocações que ele fez:
1. Imagine você ser convidado para um leilão, vender um lote por R$200,00 de parcela para 2.600km de distância e ver o leiloeiro dizer que o frete é por conta do vendedor!
2. Vender no curral é mais prazeiroso. Realmente, é a melhor maneira de se fazer e cultivar novas amizades e conhecimentos.
3. Essa moda de leilões com 835mil parcelas coloca na cabeça do comprador de curral de que ele tambem pode comprar em 835mil parcelas, o que prejudica a vida do verdadeiro criador.

Parabéns ao Dr. Euclides pelo excelente artigo. Espero encontrá-lo logo para dar os parabéns pessoalmente!

Um abraço,
Cristiano Nogueira
Faz. Canadá
Pombos - PE
"Gir: Zebu manso e leiteiro"