18 de dez. de 2009
O boi e os gases-estufa
Hermano de Melo
Médico-veterinário, Escritor e Acadêmico de Jornalismo.
Desde 2006, circula na mídia a idéia de que os ruminantes, especialmente o gado bovino, por meio da sua flatulência – leiam-se arrotos e puns – seriam responsáveis por despejar na atmosfera uma parcela significativa de gases efeito-estufa, o que contribuiria de forma decisiva para o aquecimento global. Conforme relatório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), intitulado “A grande sombra do gado”, “os gases emitidos por excrementos e flatulência de bovinos, ovinos e suínos, por desmatamento para formar pasto e a energia gasta na administração do gado respondem por 18% dos gases-estufa circulando atualmente no mundo”.
Mas o relatório vai mais longe e diz que a atividade agropastoril é responsável por 9% da emissão mundial de CO2, 65% da emissão de ácido nitroso (NO2) e 37% do metano (CH4), que é 23% mais tóxico que o CO2 e vem do sistema digestivo dos ruminantes. O documento assinado por Henning Steinfeld, chefe da FAO para o setor, conclui que “o custo ambiental por cada unidade de produção agropecuária tem de cair pela metade nos próximos anos, apenas para impedir que a situação piore”.
Em artigo publicado no jornal “O Estado de São Paulo”, de 07/05/2007, porém, e intitulado “Ecologia não combina com ideologia”, Xico Graziano mostrou, que os números apresentados pela FAO são enganosos e não suportam uma análise mais acurada. E exemplifica: “Consta do relatório que uma vaca pode arrotar até 500 litros de metano/dia. Como o rebanho bovino mundial atinge 1,4 bilhões de cabeça, tal volúpia gasosa seria um desastre ecológico. Dados da Embrapa, no entanto, mostram que um boi libera cerca de 60 quilos de metano ao ano ou quase 30 gramas por dia, e não 500 quilos como diz o relatório da FAO”. E conclui: “É errado considerar que a agropecuária seja a maior responsável pela emissão dos gases-estufa. De fato, as emissões veiculares e as chaminés nas metrópoles são as grandes vilãs do aquecimento do Planeta”.
Mas a histeria sobre a emissão de gases-estufa pelo trato intestinal dos bovinos chegou a tal ponto que, em 2007, o cientista alemão Winfried Dockner, da Universidade de Hockenheim, desenvolveu a primeira pílula antiarroto para vacas do mundo! Citando o relatório da FAO, o cientista confirmou que o arroto dos ruminantes responde por 4% das emissões de metano do planeta e como o consumo de carne cresce a tendência do aumento das emissões seria inevitável. Na ocasião, Dockner acreditava que o nível de metano seria reduzido de 4 para 2%, mas ele não obteve sequer patrocinadores interessados em sua idéia.
Em outubro de 2008, num relatório de 600 páginas encomendado pelo governo australiano, o assessor e economista Ross Garnaut pediu que os australianos substituíssem a carne bovina e de carneiro por derivados do canguru para ajudar a proteger o planeta dos efeitos do aquecimento global (Folha Online, 03/10/08). E na Suécia, conforme reportagem da Revista Época (23/10/09), o consumo de carne vermelha pode estar com os dias contados. Alguns suecos afirmam, inclusive, que sentem uma sensação de culpa quando consomem alimentos derivados do gado. E se as novas orientações alimentares forem seguidas a Suécia pode reduzir entre 20% e 50% a emissão de gases na produção de alimentos.
E mais recentemente (27/10/2009), o jornal londrino The Times divulgou declarações de Lord Stern of Brentford, professor da London School of Economics que, baseado no fato do gás metano liberado pelos rebanhos bovinos e ovinos ser mais efetivo como gás de efeito estufa que o gás carbônico, propôs que a humanidade pare de comer carne! Segundo ele, os rebanhos são gigantescos hoje em dia para suprir a demanda crescente de carne pela humanidade, cujo número atinge hoje a cifra de mais de 6 bilhões de habitantes. E completa: “A carne é um desperdício de água e cria uma grande quantidade de gases efeito-estufa. Ela coloca uma enorme pressão sobre os recursos do mundo. Uma dieta vegetariana é melhor”.
Não há dúvida que a criação de bovinos na sua forma extensiva é um dos vilões responsável pelo aumento dos gases-estufa na atmosfera e do conseqüente aquecimento global. Mas isso se deve muito mais ao desmatamento e a queima de vegetação que se promove antes de sua instalação do que pelos arrotos e pumpuns eliminados pela flatulência bovina. Estes são absorvidos numa boa! E isso é válido tanto em grandes áreas da região amazônica quanto aqui no cerrado brasileiro. Daí, no entanto, a propor a eliminação da carne bovina e ovina da dieta humana vai uma distância muito grande! Será que o aquecimento global que acontece atualmente no mundo não seria mais uma crise do modelo civilizatório atualmente implantado em países com desenvolvimento acelerado como China, Índia e Brasil?
A resposta a essa pergunta pode vir da reunião que acontece em Copenhague, Dinamarca – a COP- 15, de 7 a 18 de dezembro próximo, onde os líderes mundiais discutem um novo protocolo de emissões de gases efeito-estufa que substituirá o Protocolo de Kyoto. Cerca de 20.000 delegados de 192 países devem estar presentes ao encontro, inclusive o presidente Lula. E Lord Stern é taxativo: “Copenhague é uma oportunidade única para o mundo se libertar de sua trajetória catastrófica atual, ou seja, reduzir pela metade as emissões globais de gases efeito-estufa até 2015 e passar das atuais 50 para 25 gigatoneladas”. É ver pra crer.
Publicado no jornal Correio do Estado em 30 de novembro de 2009.
1 de dez. de 2009
Técnica do ovário artificial promete alta produtividade a baixo custo
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No Brasil, uma pesquisa inédita promete reproduzir in vitro um ambiente favorável para o desenvolvimento e maturação de óvulos visando a fecundação e produção de embriões em larga escala no futuro a partir de animais melhorados. A técnica denominada de Ovário Artificial objetiva produzir embriões em larga escala sem incomodo para o organismo materno e a um baixo custo.
O estudo é desenvolvido pelo pesquisador José Ricardo de Figueiredo e sua equipe, na Faculdade de Veterinária (Favet), da Universidade Estadual do Ceará (Uece), há três anos. Entretanto, José Ricardo disse que realiza estudos na área há cerca de 20 anos, desde o início de sua carreira acadêmica. Até agora, o grupo de pesquisadores já conseguiu fecundar quatro óvulos a partir da técnica do ovário artificial. O embrião encontra-se em análise no Laboratório de Manipulação de Oócitos e Folículos Ovarianos Pré-Antrais (Lamofopa), da Favet, no Campus do Itaperi.
O estudo já recebeu investimentos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio) na ordem de R$ 900 mil. Além desses, financiam o projeto, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico (Funcap).
Figueiredo acrescentou ainda que empresas fabricantes de medicamentos já cogitam a possibilidade de se utilizarem da técnica do Ovário Artificial para testes de substâncias. Além disso, a pesquisa permite tornar férteis as mulheres que tiveram algum problema de reprodução.
"Essa técnica desperta grande interesse na reprodução medicalmente assistida em humanos, porque também poderá preservar o bem-estar da mulher, reduzindo o risco de transmissão de doenças como o câncer, por exemplo, por ser uma alternativa aos enxertos de ovário para restauração da fertilidade em mulheres", afirma.
A descoberta da técnica, cientificamente chamada de biotécnica de Moifopa, é que trabalha com óvulos não crescidos que estão armazenados nos chamados folículos pré-antrais, isto é, folículos sem antro, obtidos a partir de ovários de caprinos em matadouros por meio de técnicas especiais. "O folículo secundário cresceu e maturou in vitro. Após ser fecundado, gerou um embrião viável que se desenvolveu até a fase de mórula, ficando pronto para a transferência em uma fêmea receptora", disse.
De acordo com o pesquisador, naturalmente o ovário disperdiça uma grande quantidade óvulos. Só um em cada mil óvulos (0,1%) consegue chegar até ovulação. Os demais óvulos (99,9%) morrem por um processo denominado de atresia folicular. Isto ocorre porque no ovário há limitação de espaço e uma grande competição entre os folículos por nutrientes, hormônios e outras substâncias que são limitados.
Para Figueiredo, a intenção é evitar as mortes. "A técnica do ovário artificial visa recuperar dos ovários os óvulos não crescidos contidos nos folículos pré-antrais antes de sua morte e colocá-los dentro de meios de cultura apropriados mantidos em incubadoras de modo a bloquear a morte dos óvulos e assegurar o seu crescimento e maturação e posterior fecundação in vitro. Em outras palavras, o biotécnica do ovário artificial visa recriar um ovário in vitro mas com uma eficiência maior que o ovário natural", enfatizou.
Para o cientista, no futuro, enquanto um animal vive tranquilamente no pasto, seus óvulos podem estar em desenvolvimento em algum laborátorio. "Imagine esta tecnologia no futuro: uma vaca tranquila no pasto enquanto um pedaço de seu ovário a quilomêtros de distância está produzindo óvulos em um ou vários laboratórios sem nenhum desconforto para o animal. Com as devidas adaptações esta situação de conforto e bem-estar também seria proporcionado à mulheres com problemas de fertilidade que recorrem a clínicas de reprodução assistida", ilustrou.
Figueiredo reconheceu que a técnica pode render boas parcerias com outros países. "Devemos fechar uma parceria com a Universidade Livre de Bruxelas, na Bélgica, por meio do pesquisador Johan Smitz, que trabalha diretamente com reprodução assistida em humanos. Na sequência vamos fazer parceria também com pesquisadores de Chicago, nos Estados Unidos", comentou.
O próximo passo do estudo, segundo ele é produzir embriões a partir de folículos em estágios iniciais.
APLICAÇÕES
Entre outras aplicações, o Ovário Artificial possibilita o estudo in vitro do efeito de diferentes substâncias sobre os folículos pré-antrais, visando elucidar os mecanismos envolvidos na regulação da foliculogênese inicial, hoje pouco compreendida. Estes estudos são essenciais para a compreensão da fisiologia ovariana no que tange ao crescimento e maturação de oócitos aptos à fecundação e poderão revolucionar a reprodução animal no futuro.
Em biologia molecular, possibilita assegurar as condições necessárias para identificar e quantificar, nos diferentes compartimentos foliculares, a expressão dos genes que são responsáveis pelo controle do crescimento de folículos pré-antrais e antrais. Na indústria farmacêutica, permite a realização de testes in vitro da ação de fármacos (benéfica ou tóxica) sobre os oócitos, preliminarmente ao seu emprego em experimentos envolvendo animais e seres humanos.
A validação científica do ovário artificial como método laboratorial para testes de drogas e sua posterior aceitação pelos órgãos de governo responsáveis pela liberação de medicamentos trará importantes consequências para o bem-estar animal, uma vez que milhares de animais serão poupados de serem utilizados em experimentos/testes, no que concerne aos testes in vitro.
Em nanotecnologia, oferece um importante modelo para testar a inocuidade de nanopartículas utilizadas no carreamento de drogas de interesse médico. Na implantação de bancos genéticos (germoplasma), o ovário permite uma avaliação precisa da eficiência de protocolos de criopreservação analisando a taxa de sobrevivência e desenvolvimento in vitro de oócitos inclusos folículos pré-antrais previamente criopreservados.
No tratamento de infertilidade, a técnica representa uma alternativa futura para o aperfeiçoamento de meios de cultura visando o crescimento, a maturação oocitária e, consequentemente, a produção de embriões humanos in vitro. Hoje, esses embriões são produzidos utilizando-se procedimentos de superovulação e colheita dos oócitos por punção, gerando desconforto físico e emocional para as pacientes.
Para o bem-estar animal, por se tratar de um modelo exclusivamente in vitro para a produção de embriões, a Moifopa (ovário artificial) contribuirá para o bem-estar animal (redução do estresse), pois representará uma alternativa aos procedimentos de superovulação, colheita de embriões, punção de oócitos por ultrassonografia, bem como ao uso de animais em experimentos. No futuro, a partir de um pequeno fragmento de córtex retirado de um ovário por biopsia, será possível a produção, em laboratório, de centenas a milhares de embriões.
FONTE:Ministério da Ciência e Tecnologia
30 de nov. de 2009
ABCZ registra primeiro clone zebuíno
Aos três meses de vida, a fêmea da raça nelore Divisa Mata Velha TN 1 (Registro BN 1000 TN 1) passará a ser conhecida mundialmente como o primeiro clone zebuíno a ser registrado pela ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu). O registro será realizado amanhã (1º/12), às 10h, na sede da empresa Geneal, localizada na BR 050, km 184, em Uberaba/MG.
O registro do primeiro zebuíno clonado acontece seis meses depois do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) anunciar a homologação da inscrição de zebuínos oriundos de transferência nuclear (clones) no SRGRZ. Outras raças que também fazem registro de clones são jersey e holandês.
Os critérios para a concessão do registro foram definidos em 2007 por uma comissão técnica formada por pesquisadores de várias universidades e centros de estudo. Algumas das exigências é a obrigatoriedade do doador nuclear ser portador de registro genealógico de nascimento ou definitivo (Veja “Regulamento do Registro de Clones”).
De acordo com o presidente da ABCZ, José Olavo Borges Mendes, a ABCZ dá um importante passo para garantir a formalização desses animais. “É uma grande conquista, porque, apesar do melhoramento genético ser nossa principal meta, sempre existirão aqueles animais de mérito genético singular, que podem contribuir para resgatarmos qualidades e funcionalidades de interesse do mercado. A clonagem também possibilita a preservação dessa genética”, destaca o presidente.
Ele alerta, porém, que a tecnologia deve ser utilizada com ética e em prol do crescimento da pecuária. “Temos muito a desenvolver em relação à clonagem, mas a ciência está sempre em evolução e temos que caminhar em conjunto para que possamos utilizá-la a favor do avanço da pecuária. É preciso zelar pela ética em relação à negociação de animais clonados para que o mercado não perca a credibilidade e para que nossa pecuária não deixe de se desenvolver. Por isso, as normas são aliadas da ética”, garante.
Da Vitória à Divisa Mata Velha – O primeiro clone bovino brasileiro e da América Latina nasceu há oito anos. Batizada de Vitória, a fêmea nasceu graças aos avanços com a biotécnica alcançados pelos pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen).
A história de Divisa Mata Velha TN 1, animal que pertence à Fazenda Mata Velha, também passa pelos laboratórios da Embrapa, que tem um convênio com a empresa Geneal desde 2006 para produção de clones.
Para produzir o clone, foi coletado em abril de 2007 uma biópsia de pele de 1 cm X 1 cm da prega da cauda da doadora Divisa. O material foi levado para Brasília, onde está localizada a Embrapa Cenargen, para realização dos procedimentos de isolamento, cultivo e congelamento das células. A manipulação resultou em 18 embriões transferidos para 14 receptoras e cinco gestações confirmadas.
A única que chegou ao fim (com 292 dias de gestação) foi a de Divisa Mata Velha TN 1. A fêmea nelore nasceu no dia 1º de setembro de 2009 com 39 quilos. “O registro deste clone é uma vitória e faz do Brasil uma referência na área de biotecnologia. O país já é responsável por 50% dos animais que nascem de Fecundação in Vitro no mundo e agora avança na clonagem”, diz o superintendente da Geneal, José Olavo Júnior.
A fêmea doadora do material nuclear que originou o clone, Divisa Mata Velha, é uma das principais matriarcas da história da seleção Mata Velha, do pecuarista Jonas Barcellos Corrêa Filho. Foi grande campeã da ExpoZebu 1995. É mãe da grande campeã da Expoinel 1999, Mansão. Também é mãe da grande campeã da ExpoZebu 2003, Página Mata Velha e mãe de Meteorito da Mata Velha.
Critérios para o Registro Genealógico de clones
Para solicitar o registro de um clone, o criador precisa atender a todas as exigências do Regulamento do Registro Genealógico das Raças Zebuínas para animais oriundos de Transferência Nuclear. Veja abaixo:
CAPITULO XVI DA TRANSFERÊNCIA NUCLEAR – TN (CLONAGEM)
Art. 114 - Os produtos clones resultantes de transferência nuclear (TN) poderão ser inscritos no SRGRZ desde que atendidas todas as normas determinadas pelo MAPA e que estejam em conformidade com a legislação em vigor e com as determinações contidas neste regulamento.
Art. 115 - Os produtos de transferência nuclear (TN) poderão ser resultantes de núcleos de células doadoras provenientes de embriões ou de células somáticas, sendo que estas serão colhidas de animais adultos, com autorização prévia do proprietário do animal doador por escrito e com firma reconhecida, cultivadas em laboratório e criopreservadas em nitrogênio líquido.
Parágrafo Primeiro: o doador nuclear, quando o material biológico a ser clonado for oriundo de células somáticas, deverá, obrigatoriamente, ser portador de registro genealógico de nascimento ou definitivo, de acordo com as exigências do SRGRZ compatíveis com sua idade.
Parágrafo Segundo: quando o material biológico a ser clonado for oriundo de células embrionárias, o doador (embrião) deverá ser, oportuna e obrigatoriamente, inscrito no SRGRZ de acordo com as normas contidas neste regulamento.
Parágrafo Terceiro: outras origens de material biológico a ser clonado poderão ser autorizadas, desde que referendadas pela comunidade científica e pelo MAPA, bem como do proprietário do animal doador do material biológico.
Art. 116 - Para que os produtos resultantes de TN possam ser inscritos no SRGRZ é obrigatória a apresentação de uma autorização formal do proprietário das células doadoras de núcleos, com firma reconhecida em cartório.
Art. 117 - A doadora do ovócito enucleado deve ser uma matriz portadora de registro genealógico da mesma raça do indivíduo clonado.
Art. 118 - Os produtos resultantes da TN, para receberem o RGN, terão que ter, além das exigências anteriores, obrigatoriamente:
a) análise do DNA da linhagem celular (núcleo doador);
b) análise do DNA da doadora do ovócito enucleado;
c) análise do DNA do produto resultante de TN;
d) laudo laboratorial, comprovando a absoluta igualdade genética entre as análises dos itens “a” e “c” e, ainda, expressando de forma clara, os procedimentos técnicos de análise molecular que confirmam o produto resultante da TN.
Art. 119 - Os produtos resultantes da TN, portadores de RGN, somente poderão receber RGD se, para os machos for apresentado exame andrológico que o qualifique como apto à reprodução e, para as fêmeas, laudo qualificando-a como doadora de ovócitos.
Art. 120 - Somente poderão ser inscritos no SRGRZ, os produtos resultantes de TN produzidos em laboratórios devidamente credenciados no órgão competente do MAPA e nos quais os doadores nucleares tenham sido registrados para TN.
Art. 121 - Os produtos resultantes de TN, que atenderem aos requisitos para inscrição no SRGRZ, terão como padrão na composição de seu certificado de registro genealógico:
a) O nome do doador nuclear acrescido das iniciais TN e uma série numérica crescente que será definida pelo SRGRZ, iniciando-se no número 1 (um), que se referirá ao número do clone de acordo com sua ordem cronológica de nascimento.
b) O número de registro genealógico do doador nuclear, acrescido das iniciais “TN” e da série numérica crescente, conforme definida no item “a” acima.
c) O número de registro genealógico da doadora do ovócito enucleado.
d) O nome do proprietário das células doadoras de núcleos
e) O nome do proprietário do animal doador resultante de transferência nuclear.
Art. 122 - Os produtos resultantes de TN deverão ser identificados:
a) Ao nascimento, por tatuagem indelével na orelha esquerda com o registro genealógico do doador nuclear, acrescido das letras “TN” e da série numérica correspondente à sua obtenção.
b) Também ao nascimento, por tatuagem indelével na orelha direita, com o registro genealógico da doadora do ovócito enucleado.
c) Até a desmama, por marca a fogo na perna direita, com o registro genealógico do doador nuclear, acrescido das letras “TN” e da série numérica correspondente à sua obtenção.
d) Pela aposição de marca a fogo (“caranguejo”) na perna direita, acima da identificação do animal, somente por técnico habilitado pelo SRGRZ e depois de atendidas todas as determinações deste regulamento.
Art. 123 - Os produtos resultantes de TN, desde que nascidos e viáveis e que tenham atendido o que determina este regulamento e, em especial, o que determina o Art. 6º deste regulamento, passam, automaticamente, a ter as mesmas condições e tratamentos que o seu doador nuclear frente ao SRGRZ.
Fonte:
Laura Pimenta (Mtb 08756/MG)
Assessoria de Imprensa da ABCZ
Tel.: +55 (34) 3319-3862
Praça Vicentino Rodrigues da Cunha, 110
Bairro São Benedito - Uberaba - MG - 38022-330
e-mail: laurapimenta@netsite.com.br
site: www.abcz.org.br
7 de nov. de 2009
Diagnóstico do leite em Goiás: a realidade continua a mesma
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Marcelo Pereira de Carvalho
Diretor Executivo da AgriPoint
09/10/2009
No último dia 08 foram divulgados os resultados do Diagnóstico da Cadeia Produtiva do Leite de Goiás, realizado pela FAEG (Federação da Agricultura do Estado de Goiás) e coordenado pelo Prof. Sebastião Teixeira Gomes, da Universidade de Viçosa. (Veja o documento na íntegra).
O trabalho é de grande valia para compreendermos um pouco mais como a produção de leite está estruturada na região e, acredito, sirva também para outros estados do Centro-Oeste e do Sudeste, visto que as condições de produção são semelhantes (inclusive esse Diagnóstico chegou a conclusões bem próximas ao realizado em MG em 2005).
Os dados apresentados não impressionam por si, visto que, de certa forma, chegam a conclusões já esperadas. Porém, certamente impressionam ao permitir uma caracterização da atividade que está longe daquilo que poderia se esperar, quando se pensa em uma cadeia de produção que em tese se moderniza.
A atividade é caracterizada pela assimetria: 68,4% dos produtores amostrados produzem menos de 200 litros por dia e são responsáveis (cálculos meus) por 25,7% do leite, ao passo que 9% dos produtores produzem mais de 500 litros/dia e respondem por 47% do leite (Tabela 1).
Tabela 1. Distribuição dos produtores de acordo com o número e volume produzido (amostra de 500 produtores).
Em média, o produtor goiano (amostragem de 500 produtores) produz 245 litros/dia, sendo o capital médio investido de R$ 786.594,00, com 74,67% em terra, o que caracteriza um sistema extensivo de produção.
O nível tecnológico é, em geral, baixo. Pouco mais de 30% fazem controle leiteiro; 69,3% não utilizam caneca de fundo telado para diagnóstico de mastite; 20% ainda não resfriam o leite; dos que resfriam, 60% o fazem em tanques coletivos. Mais de 40% dos reprodutores são zebuínos puros - sendo o principal, com 27% dos casos, touros Nelore; a produtividade por área e por animal é muito baixa (2.102 litros/hectare/ano e 8,17 kg/vaca/dia).
E por aí vai.
Nota-se, também, que há diferenças claras entre os módulos de produção: até 200 litros, os produtores utilizam quase que exclusivamente mão-de-obra familiar, têm baixo nível educacional e tecnológico, não recebem assistência técnica, têm menor produtividade, usam menos insumos e têm menor produtividade da mão-de-obra. Basicamente, sobrevivem, ou tentam. Acima de 500 litros e, especialmente, acima de 1000 litros, os dados vão melhorando. Entre 200 e 500 litros/dia, há uma transição: hora se assemelham aos produtores de menos de 200 litros/dia, hora caracterizam-se mais como produtores de mais de 500 litros.
Como outros trabalhos já realizados, a maior parte dos produtores não cobre os custos totais de produção (tabela 2) e, quando cobrem, a margem é pequena e bastante inferior ao rendimento obtido pela poupança (apenas produtores acima de 500 litros/dia têm lucro). Em geral, são cobertos apenas os custos operacionais efetivos, isto é, o desembolso de caixa, sem contabilizar a mão-de-obra familiar e a depreciação. Isso quer dizer que i) o produtor se sujeita a trabalhar por um valor menor do que o custo de oportunidade de seu trabalho, e ii) no longo prazo, será forçado a deixar a atividade por não cobrir os custos totais de produção.
Vale dizer que o trabalho compreendeu o período entre julho de 2008 e junho de 2009, em que os preços se mantiveram baixos por boa parte do tempo.
Tabela 2. Preço por litro, Custo Operacional Efetivo (COE), Custo Operacional Total (COT), Taxa de Remuneração excluindo Terra (RCST) e Taxa de Remuneração incluindo Terra (RCCT).
Torsten Hemme, do IFCN, que analisa custos de produção de diversas fazendas ao redor do mundo, constatou que menos de 2% do leite pode ser produzido ao custo comparável a US$ 2.000/tonelada de leite em pó, vigentes no mercado internacional no início do ano.
Porém, a conta não é tão simples assim. O mundo tem cerca de 145 milhões de fazendas de leite, sendo 75% delas tipicamente de subsistência, produzindo 30 a 40% do leite, talvez parecidas com os produtores de menos de 50 litros por dia de Goiás. Outros 24% são tipicamente familiares, sendo responsáveis por 40 a 50% do leite mundial. Encontram-se nessa categoria, por exemplo, a maior parte dos produtores da Europa. Apenas 0,4% das propriedades são encaradas como um negócio, e respondem por 10 a 20% do leite mundial.
Torsten colocou um aspecto interessante: os produtores europeus estão entrando em greve. Ora, quem entra em greve são os funcionários, não os empresários. O produtor europeu, no geral, vê sua atividade muito mais como a obtenção de uma renda mensal, do que como um negócio que precisa dar lucro. Se essa renda se torna insuficiente, entra-se em greve.
Em função dessa caracterização mundial da atividade, mesmo com preços aparentemente inviáveis, a produção se mantém, pois estão sendo cobertos os custos operacionais, assim como ocorreu no trabalho de Goiás. Nesse sentido, Goiás é um retrato do mundo e da atividade leiteira: da porteira para dentro, mais uma alternativa de sobrevivência, até por falta de outras opções, do que um negócio. Da porteira para fora, isso evidentemente muda.
Ao serem questionados sobre as razões de permanecer na atividade, essa realidade fica mais clara. Dos produtores com até 50 litros diários, 53,5% está na atividade por permitir uma renda mensal, ao passo que 13,4% afirmam que a região não permite outra atividade (tabela 3). No agregado, apenas 4,4% afirmam se tratar de um negócio lucrativo, enquanto 51,0% colocam que a questão da renda mensal é o principal aspecto. Ainda, 14,5% dizem que a razão é a tradição familiar (principalmente entre os acima de 1000 litros por dia).
É válido lembrar - e importante refletir sobre isso - que, como o número de pequenos produtores é muito grande, todas as análises agregadas são influenciadas pelas suas respostas, o que não caracteriza necessariamente que o leite produzido siga os mesmos padrões, visto que, como mostra a tabela 1, um número relativamente pequeno de "grandes" produtores produz a maior parte do leite.
Tabela 3. Razão pela qual o entrevistado produz leite.
Esse perfil é sustentável? Provavelmente não, mas durará mais algum tempo, talvez até a geração seguinte. Cerca de 33% dos entrevistados indicam que os filhos deixarão o meio rural, ou seja, não haverá sucessão. E essa % foi semelhante em todos os extratos, sendo a menor - 27,2% para os produtores entre 200 e 500 litros e a maior - 39,5% entre aqueles com menos de 50 litros/dia. Aliás, o fato do número de produtores com menos de 50 litros/dia já ser menor do que os que estão entre 50 e 200 litros indica que provavelmente o módulo mínimo que permite sobrevivência já está nessa faixa e não na primeira.
Voltando à questão anterior, apenas 42,5% dos produtores afirmam que os filhos continuarão com a atividade (15,1% trocarão de atividade e 9,0% venderão a propriedade, além dos que deixarão o meio rural, já mencionados acima).
Este trabalho retrata uma realidade pontual. Seria interessante termos uma análise temporal para encontrar respostas sobre as tendências. Exemplo: qual é o perfil do produtor que aumenta sua produção, isto é, será que, embora sendo uma atividade marcada pela produção de subsistência ou pouco mais do que isso, cada vez mais o leite, em quantidade, está sendo produzido por um produtor que responde mais à tecnologia e que não está tão à margem do processo, ainda que esteja longe de ser um exemplo de eficiência? Tendo a achar que sim.
O diagnóstico retrata talvez duas realidades. Olhando-se para a caracterização média dos produtores, os resultados são desanimadores. O que representam estes perfis, senão um exemplo evidente de pobreza rural e abandono? Olhando para o segmento dos produtores de maior porte, a situação é um pouco melhor, mas ainda muito aquém do potencial em relação a produtividade e rentabilidade.
A produção goiana tem um grande desafio pela frente. Após o estado verificar grande crescimento na década de 90, a produção tem patinado e não será surpresa se Goiás for superado por Santa Catarina, caindo para o quinto lugar no país.
Ao serem perguntados sobre as vantagens de Goiás, os dirigentes de laticínios locais afirmam que uma delas é o fato do estado ter grande potencial para produção de leite de baixo custo, em razão da disponibilidade de grãos e de pastagens de braquiária, e que a tecnologia de produção de leite a pasto foi dominada pelos produtores. Esse custo baixo implica na cobertura de todos os custos de produção, ou está calcado na ausência de outras alternativas? Ainda, sem dúvida, há potencial para produtividade muito maior, que resulta em maior margem líquida por hectare, mas tenho lá minhas dúvidas se o custo realmente pode cair muito abaixo dos valores encontrados no trabalho.
Que esse Diagnóstico sirva de ponto de partida para que ações efetivas sejam feitas, o que não é fácil, dada a enorme assimetria entre produtores e as dificuldades inerentes a se trabalhar com produtores que basicamente sobrevivem da atividade e que são em grande número.
21 de jul. de 2009
Gir: dupla aptidão?
Porque isso não ocorre na prática?
Seria redundância dizer aqui que o mundo mudou, que o sistema esta globalizado, etc, mas essa realidade precisa chegar até nós, ai fica fácil de entender esse fracasso do duplo propósito em um mesmo animal e nas propriedades produtivas que acham que conseguem lucrar com o leite (medíocre) e com a venda do bezerro guaxo.
Se analisarmos, hoje as tecnologias são de fácil acesso com custos totalmente acessíveis, e em contra partida a exigência de qualidade e produtividade estão cada vez mais insuportáveis, digo insuportável, por que com esse sistema globalizado, quem não da conta do que se exige, ta fora, infelizmente, o romantismo e preciosismo, não pagam as contas.
A especialização zootécnica é inevitável, animais, precisam dar conta do recado, e ai nesse caso eu não preciso de um animal que faça um pouco de tudo e sim do animal que faça tudo do pouco.
As aptidões são desafiadas a cada geração, e a cada geração, são especializadas e definidas para que façam esse “tudo do pouco”.
Agora a riqueza da raça Gir é exatamente essa, a raça é capaz de escolher, selecionar e obter indivíduos especializados em carne e indivíduos especializados em leite; ou seja, é uma raça de dupla aptidão com indivíduos com aptidões particulares e definidas (ou leite ou carne).
Não podemos correr se o risco de eleger os “super heróis”, que supostamente produzam leite e carne. Lembro: onde deve ter um úbere produtivo, não conseguimos encontrar massas musculares evidentes, e obviamente onde encontramos massas musculares evidentes não sobra espaço para um úbere produtivo.
Sejamos profissionais, observemos os erros e acertos do passado olhando para frente, não para traz. Não corramos o risco de fazermos o papel do “super pato”, que tem a capacidade de voar, nadar e andar, mas que, voa, nada e anda, muito mal, sem competitividade nenhuma.
José Agusto Barros
28 de abr. de 2009
O Leite A
José Luiz Moreira Garcia (*)
Não é novidade para ninguém que o leite de vaca esteja causando alergia às pessoas. Não estou falando de intolerância a lactose (o açúcar do leite) por falta de lactase (a enzima que digere a lactose), pois esse é um fator mais ligado a herança genética, mas sim de alergia propriamente dita, ou seja, uma reação imunológica gerada pelo nosso corpo a proteínas do leite.
Para explicar esse fenômeno o que não faltam são "profetas de plantão" geralmente oriundos das escolas e vertentes de pensamento naturebas com explicações do tipo: " o homem é o único animal no mundo que toma leite na idade adulta". Essa frase dita e repetida "ad nauseum" por "gurus" nutricionais e até mesmo por alguns médicos desavisados, soa bastante verossímil.
Essa explicação aparentemente correta sempre desafiou a minha modesta inteligência. Me explico: Como descendente direto de ibéricos sou geneticamente equipado para desconfiar de tudo e de todos. O " Hay gobierno ? Soy contra" está intimamente amalgamado no meu DNA.
Decidi estudar o leite de vaca na evolução da espécie humana. Decidi também estudar a veracidade da afirmação natureba. Logo de cara descobri que o homem é o único animal de toma leite na idade adulta por ser dotado de livre arbítrio.
Descobri que até pássaros tomam o leite de vaca, passando por cachorro, gato, e o que mais for e até mesmo o próprio gado, se o leite, a eles, for oferecido. Hipótese cada vez mais remota com o preço do leite nos patamares atuais.
A razão do bezerro/a não tomar leite de vaca após uma certa idade, é que a um determinado ponto a vaca, sabiamente, dá um “basta!” não mais permitindo ao seu rebento esse privilégio para que o mesmo por si próprio passe a se alimentar de capim, o alimento preferencial para o qual o gado bovino está geneticamente aparelhado para garantir a sua subsistência . Nesse momento a vaca sabiamente passa a hostilizar a própria cria, pois irá necessitar de toda a sua energia para gerar a próxima cria. É apenas mais uma faceta da natureza sábia.
Descobri, igualmente, que o homem toma leite de vacas há mais de 10.000 anos e que nunca teve problemas de alergia nos últimos 9.900 anos. Descobri também, que o leite de vaca foi fundamental para o desenvolvimento da própria espécie humana, tirando dos homens parte do trabalho diário de obter alimentos, quer pela caça quer pela coleta de alimentos.
O que estaria acontecendo hoje em dia, então ?
A resposta pode estar em uma descoberta recente por parte da ciência. Os pesquisadores descobriram que todas as fêmeas, incluindo a mulher, cabra, égua, camela, etc... produzem , no leite, uma proteína denominada Beta caseina A2, mas que, a aproximados 10.000 anos atrás, algumas vacas sofreram uma mutação genética e passaram a produzir também uma proteína denominada Beta Caseina A1. A única diferença entre as duas proteínas é apenas um amino acido na 67ª posição entre 203 amino ácidos que compõem as duas proteínas. A Beta Caseina A1 possui uma histidina enquanto que a Beta Caseina A2 tem uma prolina na 67ª posição.
Entra uma histidina no lugar de uma prolina, e como a natureza é caprichosa, essa aparente pequena diferença faz com que a proteína seja clivada ( quebrada ) nessa posição dando origem a um peptídeo (parte de proteína) denominado "Beta Caso Morfina A7" por ter uma estrutura química semelhante a morfina.
É criado no estomago, por meio da digestão ácida, um opiáceo.
Segundo vários autores, as Beta Caseinas A1 e seu peptídeo, principalmente um denominado Beta Caso Morfina 7 estariam implicadas em uma serie de reações alérgicas.
Estudos europeus demonstraram estar esse peptídeo associado a casos de autismo, morte súbita e diabetes tipo-1 em crianças e problemas coronarianos, problemas neurológicos e colesterol elevado em adultos.
Esse fato fez com que os pesquisadores estudassem todas as raças bovinas e descobrissem quais as que produziam uma maior quantidade de leite A1 e A2.
Uma pesquisa genética de nossos patrícios da USP de São Carlos demonstrou que todas as raças zebuínas ainda produzem leite A2 na sua quase totalidade (números bem próximos a 100%), não tendo sido afetadas por aquela mutação genética. Ponto para os criadores de Gado Gir Leiteiro. Além das características já conhecidas de rusticidade e resistência a parasitos externos aparece agora mais essa vantagem, o leite do Gir é não alergênico.
Nas raças taurinas (européias) apenas a raça Guernsey, que já foi a raça leiteira mais criada no Brasil e infelizmente se extinguiu devido a vários fatores e que agora está aumentando a nível mundial, produz exclusivamente o Leite A2, ficando a raça Jersey em segundo lugar com 75% de leite A2 e 25% de leite A1 alergênico e a raça holandesa com 50% de leite A1 e 50% de leite A2.
Como em todas as descobertas científicas que colocam em cheque o sistema estabelecido essas descobertas também estão sendo e irão ser combatidas como sempre foram pelos cientistas de aluguel, mídia de aluguel e finalmente por olíticos/legisladores de aluguel vendidos aos interesses econômicos contrariados. A título de ilustração vejam o que está acontecendo com a idéia que propõe a utilização de sacolas de supermercados feitas com material biodegradável e vejam os argumentos usados pela industria de plástico poluente para a manutenção da sua sobrevivência.
Uma outra hipótese nos chama a atenção para o manejo e a alimentação das vacas leiteiras nos últimos 60 a 70 anos. A bem da verdade é bom que se diga que as vacas leiteiras evoluíram comendo capim. São seres pastejadores herbívoros. Deveriam, portanto, se alimentar preferencialmente de capim. Certo? Errado!
As vacas leiteiras, hoje em dia, comem quase tudo menos capim. Vejam por exemplo alguns exemplos de componentes da dieta exótica das vacas leiteiras nos últimos 70 anos:
- Esterco de galinha (proibido, mas ainda utilizado na clandestinidade no Brasil) - Caroço de Algodão
- Polpa de Laranja (sub-produto industrial)
- Farelo de Soja
- Uréia, Sulfato de Amônio (derivados de petróleo)
- Farinha de Carne (hoje proibida)
- Farinha de Penas (hoje proibida)
Finalmente após todo esse cardápio indigesto vocês não poderiam ficar surpresos se eu lhes contasse que 80% de todo o Bicarbonato de Sódio produzido nos EUA sejam utilizados na alimentação de vacas de leite.
Haja Bicarbonato de Sódio!!!!
O homem descobriu um atalho para a pobreza dos nossos solos e ao invés de fertilizar os solos prefere dar aos animais diretamente os sais que na verdade deveriam ser usados como adubos de solo.
Se as duas hipóteses estiverem corretas qual seria a vaca que teoricamente produziria o leite mais alergênico ?
Exatamente! A vaca holandesa que produz mais proteína A1 alimentada com a dieta exótica que é utilizada nas fazendas-fábricas que são preconizadas pelo status-quo técnico-científico do chamado agro-negócio, que insiste em tentar reduzir todas as tarefas biológicas a meros produtores de moeda corrente sem levar em consideração as necessidades fisiológicas de cada espécie animal, isto é , uma dieta altamente acidificante e geradora de problemas já bastante conhecidos de todos os criadores de gado leiteiro, a saber, laminite, indigestão, empanzinamento, abomaso desalojado, baixa longevidade ( vida curta), etc...
Também, não poderiam ficar surpresos se eu lhes disse-se que a média de lactações de uma vaca nos Estados Unidos, a Meca do conhecimento científico e onde todos os técnicos e cientistas brasileiros se espelham, é de apenas 1,8 lactações ou até menos. Não é para menos.
Mas, afinal, quem se importa?
O Status Quo acadêmico-científico nos diz o que é certo e o que é errado e o que conta no fim do dia é produzir mais leite não importando as conseqüências.
Entretanto, vamos admitir por um átimo de tempo que ambas as hipóteses poderão estar corretas. A Nova Zelândia já se adiantou a registrar o nome "A2 Milk" e está certificando laticínios ou fazendas que trabalhem exclusivamente com Leite A2 determinado por meio de exame de DNA dos animais do rebanho e normas de manejo que contemplem o livre acesso dos animais ao pasto, luz solar e ar livre dos animais em lactação.
No mundo todo consumidores conscientes estão demandando alimentos cada vez mais produzidos de forma ecologicamente correta e leite produzido em fazendas-fábricas de gado holandês criado em confinamento (também ironicamente chamado de Free-stall) recebendo dieta exótica e acidificante que produz leite alergênico não é propriamente o que se pode chamar de ecológico e nem de correto ou até mesmo de salutar.
Asneira ! Non-Sense ! Irão protestar o sistema e as autoridades constituídas.
O tempo dirá quem está realmente com a razão.
Da minha parte eu posso lhes garantir que estou trabalhando para ter o meu leite de vacas Guernsey, Jersey e Gir ou giradas que comam preferencialmente pasto ou feno produzidos em solos remineralizados com altos teores de fósforo, cálcio, magnésio e potássio e com teores expressivos de ferro, manganês, zinco, cobre, boro, cobalto e molibdênio e com uma microbiologia ativa para garantir um bom suprimento de húmus que irá se contrapor as secas e estiagens, cada vez mais freqüentes, e gerar plantas mais sadias e nutritivas.
Talvez um dia, quem sabe, algum consumidor mais exigente irá dar valor ao meu produto. Antes tarde do que nunca!
(*) O Autor é formado em Agronomia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e tem Mestrado em Bioquímica e Fisiologia de Plantas pela Michigan State University. Também é criador de Gado Guernsey e Jersey no Sul de Minas.
8 de fev. de 2009
RESPOSTA A UM COMENTÁRIO
Num artigo publicado no blog do GirBrasil, intitulado DEBATE SOBRE O TEMA DE RAÇA “PURA” (30/01/2009), escrito por Euclides Osvaldo Marques, da Estadia do Gir, São José do Rio Preto (SP), como um comentário e uma pergunta, com respeito ao escrito por mim para o blog do Cebú de México com o título CONTRIBUA ÀS CONTRIBUIÇÕES DO DOUTOR IVAN LUZ LEDIC EM RELAÇÃO À “PUREZA RACIAL” e posteriormente publicado no blog GirBrasil (29/01/2009).
1. Comenta e pergunta o Sr. Euclides o seguinte:
Quando o Dr. Álvaro da Colômbia diz que há uma vantagem enorme na atualidade do Gir Leiteiro brasileiro em comparação ao Gir da Índia, fica uma pergunta: “Por que os condomínios de criadores de Gir e Nelore estão com gado na Índia coletando sêmen e embriões, e enviando para o Brasil?
2. RESPOSTA:
Sr. Euclides, obrigado por seus comentários e sua pergunta. Desculpe minha demora em responder, mas eu estava viajando. Quero, além de responder, ampliar minhas observações com respeito ao tema.
Começo por dizer, que ante as necessidades circunstanciais do Mundo Tropical, produzir leite de vaca em climas quentes, inclusive em condições adversas, o recurso genético Gir Leiteiro brasileiro é significativamente superior hoje ao recurso genético Gir existente na Índia.
O progresso genético conseguido no Brasil com o Gir Leiteiro, nos últimos 30 ou mais anos, iniciado pelos criadores pioneiros e continuado cientificamente nos últimos 24 anos (1985-2009 através do Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro efetuado pela EMBRAPA Gado de Leite e pela ABCGIL, em parceria com a ABCZ, as centrais de inseminação e centenas de criadores progressistas capazes de aplicar a zootecnia moderna de ponta), não tem par na Índia, nem em nenhuma parte do Mundo.
Somente se lhe equipara o esforço feito, também no Brasil, com a raça Guzerá Leiteiro entre EMBRAPA Gado de Leite, o Núcleo MOET da raça, os criadores, universidades e extraordinários cientistas da zootecnia moderna aplicada.
Hoje com centenas de rebanhos de Gir Leiteiro brasileiro, com mais de 50.000 lactações fechadas, com 167 touros provados até 2008 (para o 2010 poderão chegar a 200) e um nível cada vez mais elevado de vacas superiores, filhas e netas de touros provados, com disponibilidade de embriões e sêmen congelado, distribuídos por centrais de grande capacidade tecnológica, ao alcance de pequenos, médios e grandes produtores de leite, não só no Brasil, senão em diferentes países do Mundo Tropical, o impacto deste recurso genético, mais outros fatores e detalhes, traduz-se como algo significativamente superior ao que realizaram, em forma fragmentária, na Índia algumas cooperativas e instituições estatais.
Numa excursão muito interessante que realizei à Índia no ano 2001, com um grupo de criadores e técnicos amigos, da Colômbia e Venezuela, percorremos em ônibus e avião mais de 6.000 quilômetros nos Estados de Maharashtra, Gujarat e Rajastan, Agra (UP) e Delhi, pudemos identificar em diferentes gaushalas (conventos e/ou clausuras), institutos, cooperativas, centros de investigação, bem como no Marajá de Jasdan, Darbar Satyajit Khachar, um gado Gir indiano de características e aparência externa muito belas, muito em particular nas cabeças e chifres, bem como em cores. Todavia em funcionalidade, por exemplo, nos úberes, muito inferior ao dos criadores brasileiros de Gir de ponta. Não encontramos no gado Gir na Índia um programa de melhoramento genético nem similar, nem à altura, ao que se desenvolvia no Brasil no ano 2001 e que hoje, em 2009, é uma maravilha mundial como o expliquei antes.
Indiscutivelmente identificamos indivíduos, vacas e touros Gir, alguns pertencentes ao Marajá de Jasdan, que poderiam chamar-se ‘como superiores’, ou indivíduos de cúpula na Índia, mas não rebanhos provados sob sistemas modernos de avaliação, confiáveis, ou núcleos superiores ao material Gir Leiteiro brasileiro provado. Encontramos genealogias de vacas com pedigrees ancestrais de até 300 anos atrás, mas o indivíduo sem provas de progênie ou qualquer outra avaliação.
Em búfalos, pelo contrário, encontramos maravilhas. Sendo a Índia um dos maiores produtores de leite fluído do Mundo, e o maior de leite de búfala, a qual é essencial lá, não só por sua altíssima contribuição à indústria láctea e ao grande total de produção nacional, senão pelo sustento de milhões de micro produtores de leite, proprietários de uma ou duas búfalas. Em isto se esmeraram, com maior ênfase que com bovinos, os institutos do Estado, e inclusive as cooperativas grandes e pequenas, o NATIONAL DAIRY DEVELOPMENT BOARD (NDDB), que têm realizado trabalhos em búfalos muito importantes em inseminação, transferência de embriões e algo em melhoramento genético.
Visitamos a SABARMATI ASHRAM GAUSHALA, administrada pelo NDDB, uma central com laboratórios para congelamento de sêmen e trabalhos em embriões, com touros para a distribuição em massa de sêmen aos associados das grandes cooperativas. No momento da visita, Novembro de 2001, o catalogo, o qual ainda conservo, oferecia 90 reprodutores, dos quais 36 touros (40%) eram búfalos de diferentes raças e/ composições; 23 touros (26%) eram Bos taurus (12 Holstein e 11 jersey); 26 (29%) eram touros mestiços F1 ou compostos (indicus x taurus); 2 touros Gir; 1 touro Rede Sindi; 1 touro Sahiwal e 1 touro Kankrej (Guzerá). Os indicus dão 5% do total de touros (os Gir 2% dentro dos 5%). Ou seja, observa-se no catalogo o enorme interesse pelos búfalos (40%), um grande interesse pelo uso de touros mestiços (29%) e de raças européias (26%) (total 26 + 29 = 55%). Um mínimo interesse pelas raças nativas indicus (5%) onde o Gir participa com tão só 2 touros. Observa-se ademais, que o indicador para a escolha da seleção do sêmen dos touros não era uma prova, senão a lactação da mãe e em alguns casos as lactação das avós.
O que se fez, nesse país da Ásia, em programas de conservação das raças autóctones (as indicus) e em melhoramento genético pelas grandes instituições como THE INDIAN COUNCIL OF AGRICULTURAL RESEARCH (ICAR), o NACIONAL BUREAU OF ANIMAL GENETIC RESOURCES (NBAGR) e o PROJECT DIRECTORATE OF CATTLE FOR GENETIC IMPROVEMENT (PDC), não têm uma transcendência e impacto comparável ao que se fez no Brasil.
Tanto que não apresentaram nada no 8º Congresso Mundial de Genética Animal Aplicada, apesar de terem sido convidados, evento que se realizou em Belo Horizonte, MG, de 13 a 18 de Agosto de 2007 (Madalena, F.E., comunicação pessoal, Janeiro 2009). Se tivessem tido algo que mostrar o teriam apresentado, como o fizeram os brasileiros neste e outros eventos do mundo da genética animal aplicada.
Tivemos a grande oportunidade de visitar AMUL, em Anand, Gujarat, a maior Cooperativa da Ásia e uma das maiores do Mundo, com milhões de associados (micros criadores). Lá presenciamos a forma como operam os centros de recepção todos os dias, duas vezes, de manhã e à tarde. Fomos testemunhas de como estes micros produtores, iam vender desde uma, duas, três ou mais garrafas de leite de búfalas e um pouco de leite de vacas cruzadas (base indicus com sêmen de touros taurus), e lhes pagavam no mesmo dia (conforme o cartaz abaixo guardado como um tesouro no escritório de Alvaro Restrepo na Colômbia e fotografado por Ivan Ledic).
Cartaz da Cooperativa de AMUL com milhares de pessoas vendendo sua pequena produção diária de leite (em 2001 essa rotina era realizada já há 51 anos)
Algo extraordinário e único. Dizia-nos o Presidente desta grande cooperativa, e do NDDB, o Dr. Trivedi, um homem interessantíssimo, numa entrevista que lhe fizemos: que seu interesse primordial não era o melhoramento genético dos animais, senão o bem-estar da gente e que o grande milagre de AMUL era pagar diariamente a milhões de micros produtores o leite entregue, para o sustento de suas famílias!!! Algo fantástico e admirável, em mim opinião.
Mas minha comparação e afirmações anteriores não desqualificam o Gir da Índia. Pelo contrário, localizam-no, como o mencionei em meu escrito, como um recurso primitivo, isto é como fonte de “linhagens”, lá na Índia, para conseguir o que comumente se denomina, entre os criadores, “refrescamento de sangue” (introduzir variação genética) para criadores do Brasil que lhes interesse fazer isso, ou para aqueles com altos índices de consangüinidade em seus rebanhos e/ou para a busca de aportes particulares em características externas, para os senhores “puristas” ou quiçá de Gir “padrão”, onde primam na seleção para características menores ou de aparência externa.
Para terminar e concluir passo a responder em forma concreta, à pergunta do Sr. Euclides: sempre existirão, em todas as partes do Mundo, alguns criadores interessados em conseguir material genético de “cúpula” em procura de melhorar sua raça. Na Índia existem esses “indivíduos de cúpula”, mas o grande problema é identificá-los com certeza. O que você conta em seus comentários não me surpreende, pois que eu “meio sabia” de que alguns selecionadores brasileiros, ou “condomínios de criadores”, estão levando ao Brasil sêmen e embriões de Gir da Índia (e de Nelore também, ao qual não quero referir-me aqui).
No ano 2001, vimos um pouco disso e também o observamos lá, mas também o contrário, filhos de um grande touro Gir Leiteiro brasileiro nascidos na Índia!!! Com os avanços da biotecnologia já não existem fronteiras geográficas. A ambição do homem não tem limites. O que está por ver-se são os resultados positivos do conjunto, em outras palavras, os aportes que possam fazer esses embriões e sêmen do Gir da Índia, concretamente ao Gir Leiteiro do Brasil. De repente poderão ser positivos, pois creio muito no bom senso de meus amigos criadores, e no Brasil há alguns senhores que conhecem muito bem a Índia e seu material genético Gir, com o apoio ademais, de técnicos veterinários indianos especialistas para a escolha de tal recurso.
O ano passado li um artigo, escrito por Devinder Sharma, intitulado Losing Native Breeds (InfoChange News & Features, Nov. 2007), sobre biodiversidade e recursos genéticos da Índia, onde expressa sua grande preocupação pela extinção das raças nativas em seu país (as indicus onde está incluída o Gir indiano) por cruzamentos indiscriminados com raças taurus. Em sua conclusão, como interrogação, questiona: “Será que a Índia vai terminar importando do Brasil suas mesmas raças nativas (indicus - Gir, Guzerá, Nelore) que uma vez, faz anos, exportou para esse país da América do Sul!!”
Não tenho dúvidas de que já está ocorrendo essa importação, através da biotecnologia, tal como o ilustrei acima, o que fará cada dia mais difícil, para os criadores brasileiros, a correta identificação de indivíduos superiores dentro desse recurso primitivo da Índia.
ALVARO RESTREPO CASTILLO, B. S., M. Ag.
Consultor Particular
Bogotá - Colombia
alvarorestrepo14@gmail.com
Tradução: Ivan Luz Ledic
Tradução: Ivan Luz Ledic
18 de jan. de 2009
Gir Leiteiro: demanda cresce e valoriza a raça
A raça está valorizada, com uma demanda crescente de animais e de genética. Na pecuária leiteira é a expoente e mostra os resultados de trabalho integrado entre técnicos, pesquisadores e criadores
Luiz H. Pitombo (Revista Balde Branco)
Não faz muito tempo que um dos zebuínos mais leiteiros que se conhece, o Gir, era relegado dentro das raças produtoras tradicionais. Nas exposições permanecia esquecido ou quase que escondido. Mas isto é coisa do passado. Hoje, animais da raça freqüentam mostras especializadas, são avaliados em torneios leiteiros e promovem leilões no luxuoso Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, sendo arrematados por lances elevados de novos e tradicionais criadores. Um fator determinante para este reconhecimento da raça, que quase desapareceu no Brasil, foi a união de técnicos e selecionadores que acreditaram em seu potencial, garimparam os melhores exemplares e começaram a estabelecer o PNMGL-Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro, com a meta de desenvolver um tipo mais funcional e moderno de animal. Este trabalho, que envolve vários parceiros, tem à frente a Embrapa Gado de Leite e a ABCGIL-Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro. A raça ganhou novo perfil com a colocação no mercado de sêmen de touros provados no leite e foi alavancada pelos bons resultados de sua cruza com a raça Holandesa formando o Girolando, para onde vai a maioria do seu sêmen. Por outro lado, selecionadores e produtores passaram a manejar melhor seus animais dando condições para expressarem seu potencial produtivo. No início do PNMGL, em 1985, a média de produção dos rebanhos acompanhados era de 2.000 kg de leite por lactação. Atualmente, animais nascidos em 2006 apresentam média próxima de 3.500 kg, sendo cada vez mais comum se deparar com vacas acima dos 10.000 kg de leite.
Dados da Asbia-Associação Brasileira de Inseminação Artificial mostram que, em 1997, quatro anos após a apresentação dos primeiros touros provados, foram comercializados no País 186 mil doses de sêmen de Gir Leiteiro, o que representava 7% de todas as raças leiteiras. Em 2007, este volume chegou à 667 mil doses com um crescimento de 266%, enquanto no conjunto das raças a evolução foi de 54%, o que fez sua participação subir para 18%. Com algumas exceções, ela se manteve ao longo dos últimos anos como a segunda raça leiteira em volume de vendas, superada só pela Holandesa. Já na exportação, ela divide a preferência com a Girolando. Segundo a Secex-Secretária de Comércio Exterior, em 2007 foram enviadas ao exterior 163 mil doses de sêmen de diferentes raças, e em 2008, com dados acumulados até outubro, 245 mil doses. Pelos cálculos da Brazilian Cattle Genetics, entre 70% a 80% são da raça zebuína e de sua cruza. A Venezuela é um dos países que aposta firme na genética brasileira e tem igualmente importado doadoras e reprodutores. A meta é estabelecer um núcleo de seleção custeado pelo governo. Colômbia, Costa Rica, México, Egito e Senegal também estão de olho na raça. Atentos às oportunidades e ao implemento da linhagem leiteira do Gir, novos e tradicionais criadores usam intensamente fecundação in vitro (Fiv) e a transferência de embriões (TE) para multiplicar os animais de qualidade, aumentar a pressão de seleção e a oferta de animais. Como reflexo do interesse que desperta, o número de integrantes da ABCGIL quase que dobrou em 2008, chegando a perto de 270 associados. Mas dentro deste cenário, existem desafios a serem vencidos, como um rebanho ainda pequeno frente à crescente demanda interna e externa, a necessidade de se ampliar os controles leiteiros oficiais, o número de matrizes puras inseminadas e de participantes do PNMGL. Há também quem veja com ressalvas a escalada de preços dos animais e a busca de produções muito elevadas em condições que fogem ao cotidiano das fazendas e que se tornam anti-econômicas (veja seção Ponto de Vista nesta edição).
Ordem é disseminar benefícios - Embora existam no Brasil propriedades com excelentes níveis de produção, a média nacional fica abaixo dos 1.500 kg de leite/vaca/ano. A partir desta constatação, Silvio Queiroz Pinheiro, presidente da ABCGIL, defende uma mudança na mentalidade destes produtores com a sua profissionalização, implementando o gerenciamento, tecnologia e a genética animal. Neste último aspecto, diz que o Gir Leiteiro possui um trabalho de sucesso e tem muito a contribuir, com a raça dispondo de um amplo espaço para se expandir. Com ela, diz que é possível se produzir leite a pasto com menos ração e gastos no controle de parasitas, resultando num custo adequado. Para sua divulgação, o dirigente conta que a ABCGIL está adiantada em conversas com entidades de extensão rural e começa discutir com a Embrapa Gado de Leite a possibilidade de levar a raça e seu sêmen para fronteiras pecuárias como as de Rondônia e Acre. “Queremos aumentar nossa base, principalmente em áreas tropicais, passando para 800 ou 1.000 fazendas colaboradoras do PNMGL”, diz com entusiasmo. Hoje elas são perto de 450 entre rebanhos puros e mestiços. Para 2009, comenta que se exigirá mais envolvimento dos integrantes.
Pinheiro destaca que a ABCGIL estimula a realização de exposições e criou em 2008 um ranking, onde uma das exigências é a organização de torneios leiteiros. Técnicos da associação também estão envolvidos num projeto para o estabelecimento de uma ‘vaca-modelo’ em termos fenotípicos da raça, como tamanho e angulosidade. “Temos atualmente exemplares maravilhosos”, avalia. Na seleção, o dirigente aponta que se busca animais de melhores úberes e tetos, que sejam equilibrados em seus aprumos, com volume de leite, bons níveis de sólidos, além de persistência na lactação. Os animais precisam ser férteis e dóceis. O crescimento da raça, sua valorização e o forte movimento em seus leilões, segundo Pinheiro, são reflexo do avanço genético obtido e da importância do Gir e sua rusticidade para a pecuária leiteira tropical. Ele se diz satisfeito com os resultados e com as perspectivas existentes. Sobre leilões com preços muito elevados, considera que são naturais entre aqueles que desejam estar no topo da pirâmide, buscam os melhores animais e mais caros. “São bons para divulgar a raça”, indica.
Base de seleção da raça - A população de Gir Leiteiro no País é estimada entre 22.000 e 25.000 mil animais, dos quais 12.000 a 15.000 são vacas. Em sua quase totalidade, estes rebanhos participam ou são acompanhados pelo PNMGL, que igualmente atua em outros projetos de melhoramento da raça (GirGoiás e Núcleo Moet). Já foram incluídos nas provas 322 touros, sendo que até 2008 passaram por avaliação 167 animais. Revelaram-se positivos 96, acumulando-se perto de 50.000 lactações analisadas, tanto em rebanhos puros como cruzados. Atualmente, de 20 a 30 reprodutores entram em avaliação por ano, contra apenas 6 a 8 de antes. Além do acompanhamento da progênie, nos rebanhos puros é coletado sangue para a extração do DNA para estudos na área de genética molecular e de outras medidas. Em 2005, foi apresentado o primeiro sumário com marcadores moleculares para capa caseína. Outros estão em avaliação (resistência a doenças, produção, proteína e gordura), com boas possibilidades de serem incluídos no sumário de 2009. “O PNMGL, apesar de pequeno, utiliza toda tecnologia disponível no mundo”, ressalta Rui da Silva Verneque, coordenador do programa e chefe adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Gado de Leite. Ele explica que a seleção está centrada no volume de leite, mas que igualmente apresentam avaliações para proteína, gordura, sólidos e lactose, além de células somáticas e características lineares, como tamanho, altura, cascos e úbere. Para breve, diz que será estabelecido um índice que combine várias características econômicas. Além dos ganhos em produção nos rebanhos puros, Verneque aponta que houve um aumento na duração da lactação. Vacas que pariram entre 1970 e 1998 apresentavam uma lactação média ao redor de 270 dias, mas desde 1999 houve um crescimento tendendo para a média atual de 289 dias. Foram detectadas reduções no intervalo médio entre partos, que passou de 517 dias nas fêmeas nascidas em 1970 para 466 dias para as nascidas em 2002, mas ainda há o que reduzir. A média de idade ao primeiro parto, tomando por referência o mesmo período, reduziu-se em cerca de 4 dias ao ano. No tocante aos constituintes do leite, eles cresceram em função do aumento da produção de leite em si e não do aumento dos teores. Os percentuais médios das vacas nascidas entre 1994 até 2002 estão em: 4,04% para gordura, 3,03% para proteína, 4,58% para lactose e 12,81% para o extrato seco. A contagem de células somáticas média para estes mesmos animais é de 583.000/ml. Verneque não vê problemas significativos de consangüinidade dentro da raça no Brasil e nem a necessidade de importações, mesmo porque afirma que “temos o melhor Gir Leiteiro do mundo, com o trabalho de seleção em franca expansão”. Como o rebanho é ainda pequeno e por isso tem preços elevados, o pesquisador indica seu uso em cruzamentos com raças especializadas, como a Holandesa, sugerindo a meio-sangue como a mais adequada para a maioria das fazendas. Para os que não trabalham com bezerro ao pé, recomenda o uso de graus mais elevados de sangue das raças taurinas. “Os zebuínos são muito amorosos com suas crias e sua ausência interfere na produção”, conta.
Não é estratégia de marketing - “O Gir Leiteiro vive um momento próspero realista, pois chegou a este ponto pelo trabalho dos selecionadores, entidades, Embrapa... É um crescimento sustentado e não de ações de marketing”, afirma Eduardo Falcão de Carvalho, da Estância Silvânia, em Caçapava-SP. Ele é detentor de um plantel com 46 anos de seleção e foi por dois mandatos presidente da ABCGIL. Além da qualidade dos animais, ele reputa o crescimento nos valores a uma oferta abaixo da demanda, mesmo com o uso da Fiv e TE . Carvalho considera mais crítica a situação para o mercado externo, onde aponta tanto a falta de animais como de protocolos sanitários entre países. No Estado de São Paulo, diz que a raça vai muito bem e com crescimento no número de criatórios. “São rebanhos de seleção menores que estão ganhando dinheiro, numa região de terras e custo de mão-de-obra elevados”, salienta. Na Bahia e em Sergipe, a linhagem leiteira também cresce, como atesta Joaquim Souto, da Fazenda Taquipe, em São Sebastião do Passe-BA. Ele preside o Núcleo de Criadores de Gir desses estados, fundado em 2003 com 13 afiliados e que hoje está com 35. Diz que a ênfase na região está nas fêmeas e na produção de leite, e com isso cresce a demanda pelos tourinhos Gir Leiteiro. “Nas propriedades, são comercializados entre R$ 3.000 a R$ 5.000, enquanto que as novilhas saem por cerca de R$ 8.000”, revela.
Também comenta que se eleva o número de criadores de Girolando que investem no Gir Leiteiro, como ele próprio, que na nata do seu criatório Gir insemina com touros puros provados e nas demais parte para meio-sangue com o Holandês para a venda. Souto lembra com satisfação que passou para a ordenha mecânica um lote de fêmeas jovens Gir Leiteiro de sua fazenda para agilizar o trabalho. “A adaptação foi surpreendente”, avalia, explicando que mantém os bezerros por perto presos ao cabresto. As centrais CRV Lagoa, ABS Pecplan e Alta Genetics são as que mais atuam com o Gir Leiteiro. Henrique Brinckmann, gerente de negócios de leite da primeira, informa que as vendas da raça têm apresentado um grande crescimento, especialmente entre os criatórios puros, e que a perspectiva é de continuar a crescer em 2009. Os preços das doses têm se mantido estáveis na central.
Entre o tradicional e o novo - Entre as fazendas pioneiras que deram importante contribuição para o Gir Leiteiro estão as mineiras Brasília, em Ferros, e a Calciolândia, em Arcos. A primeira, capitaneada por Rubens e Flávio Peres, tem mais de 50 anos de seleção e um total de 500 animais. A média do rebanho é de 9.300 kg de leite em 350 dias, mas 10 vacas estão acima de 15.000 kg. Em seu grupo de campeãs está “Setiba”, com 18.206 kg em 365 dias. No leilão de outubro da propriedade, a média das fêmeas ficou em R$ 50.000, das prenhezes R$ 30.000 e dos tourinhos R$ 10.400. A média geral atingiu R$ 35.000. Flávio considera que a expansão da raça vem se dando de maneira adequada e boa do ponto de vista técnico. Existe resposta positiva na seleção e afirma: “Em qualquer região tropical do Planeta e onde as raças européias não vão bem, a tendência é de o Gir Leiteiro dominar”. Mas como outros, reforça a necessidade de se continuar a trabalhar com credibilidade e com o controle leiteiro oficial. Ele conta que hoje já se conhece e se ensina mais sobre o zebu leiteiro nas universidades, mas que ainda existe um déficit.
Na Calciolândia, de Gabriel Donato de Andrade, a seleção da raça é realizada há mais de 40 anos. São 1.200 cabeças registradas, com média de 4.000 kg de leite em 300 dias, sendo que os animais são mantidos a pasto o ano todo, já que na seca dispõe de irrigação. No plantel existem animais que desafiados para torneiros leiteiros dão de 8.000 kg a 9.000 kg. Uma das vacas top é “Juliana”, com 11.000 kg na lactação.
Segundo Jordane José da Silva, gerente da propriedade, na seleção, além de precocidade e volume de produção, se busca melhorar os constituintes do leite. Os teores de proteína estão entre 3,8% e 3,9%; os de gordura, de 4,2% a 4,5%, e de sólidos totais, 12,5%. Ele conta que recebe pelo leite de Gir um adicional de 6% a 8% a mais do que o das Girolandas. Em termos de comercialização, Silva diz que 2008 foi excepcional. Em seu leilão virtual a média foi de R$ 25.000 e tem comercializado cerca de 250 tourinhos ao ano pela média de R$ 5.500. Um remate de 2008 que teve muito sucesso foi o 1º Elite Gir das Américas, realizado em novembro no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, numa promoção de Jorge Sayed Picciani e filhos. Selecionadores tradicionais de Nelore, há quatro estão igualmente com o Gir Leiteiro na Fazenda Monte Verde, em Uberaba-MG. No evento, que teve média geral efetiva de R$ 120.000, estavam representações da Venezuela, Colômbia, Bolívia e México.
Felipe, filho de Picciani, explica que na opção pela raça foi determinante a confiança no grande mercado existente para ela nos trópicos. O plantel atual da fazenda é de 200 vacas, dentre as quais 40 são doadoras. Perto de 300 animais estão em cria e existem 400 receptoras prenhas. Quanto ao crescimento do plantel, diz que ainda não pensa em limites e que a meta é ofertar tanto animais de seleção como comerciais. Em seus projetos, para daqui a 3 ou 4 anos, está a instalação, em Goiás ou Tocantins, de um criatório para 2.000 vacas Girolandas.
Zebu leiteiro melhorado
Considerada uma das raças mais antigas da Índia, o Gir tem seu criatório puro concentrado nas regiões de Baroda, Rayputana e nas montanhas de Gir. São animais identificados em sua origem como de aptidão leiteira e de trabalho, nesse país que tem restrições religiosas ao consumo da carne bovina. No Brasil, sua introdução aconteceu através de sucessivas importações iniciadas logo nos primeiros anos do século passado, com o maior e último desembarque, com perto de 153 animais, ocorrendo em 1962. Até os anos 60 era uma raça zebuína numerosa no País e muito apreciada por suas características morfológicas, em detrimento da produção, como era a mentalidade predominante entre os pecuaristas da época. Também existem linhagens classificadas de dupla aptidão, corte e leite. Foi utilizada para a formação de outras raças como a Indubrasil, Girolanda e a Brahman nos Estados Unidos, esta com animais oriundos do Brasil. Mas desde o início, alguns técnicos e criadores acreditaram e começaram a seleção da raça para o leite. Como marcos desta trajetória pode-se apontar o estabelecimento pelo poder público, na década de 30, do Posto de Criação João Pessoa, em Umbuzeiro-PB, e da Fazenda Experimental Getúlio Vargas, em Uberaba-MG. Dentre os criatórios particulares pioneiros de Gir Leiteiro, estavam nas décadas de 40 e 50 os de Francisco Figueira Barreto, Contentino Jacinto, Gabriel Donato de Andrade, João Batista Figueiredo Costa, Randolfo de Mello Resende e Rubens Resende Peres. Com o trabalho de melhoramento genético, o Gir Leiteiro ganhou reconhecimento nacional e internacional, com os próprios indianos vislumbrando a qualidade do plantel aqui existente. Outros países, especialmente os latino-americanos, importaram e importam animais selecionados no Brasil, que detém, atualmente, o maior rebanho apurado da raça no mundo.
9 de jan. de 2009
Programa núcleo MOET da EPAMIG
A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais - EPAMIG em parceria com a Universidade de Uberaba - UNIUBE, terminaram a primeira etapa do projeto “Núcleo MOET do rebanho gir leiteiro EPAMIG” com a confirmação das prenhezes e sexagem dos produtos da estação 2007/2008. O convênio EPAMIG-UNIUBE explorou o rebanho gir da EPAMIG, de animais de alto valor genético para produção leiteira, com objetivo de multiplicar rapidamente este material genético. O projeto MOET trará forte impulso à evolução do programa EPAMIG e ganhos significativos em produtividade. O interesse mútuo nesta parceria tecnológica, e as percepções administrativas, empreendedora e científica do Presidente da EPAMIG, Dr. Baldonedo Arthur Napoleão, do Reitor da UNIUBE, Dr. Marcelo Palmério e do Chefe do Centro Tecnológico do Triângulo e Alto Paranaíba, Dr. Roberto Kazuhito Zito, viabilizaram esta parceria.
Estiveram envolvidos na equipe os pesquisadores e professores da EPAMIG e UNIUBE, além de colaboradores da FAZU, CEFET Uberaba, UFMG e EMBRAPA Gado de Leite e parceiros da iniciativa criadores de zebu leiteiro, além de técnicos e empresas de reprodução animal. Vale resaltar como grandes colaboradores a Professora Vânia Maldini Penna (Melhoramento - CBMG/UFMG), responsável pelo MOET guzerá e o médico veterinário Marcos Melo, proprietário da Fazenda Taboquinha sede da avaliação do MOET Guzerá. A contribuição destes profissionais com a experiência bem sucedida do MOET Guzerá ajudaram muito na formatação do projeto da EPAMIG-UNIUBE.
O Núcleo MOET (núcleo de múltipla ovulação e transferência de embriões, do inglês multiple ovulation and embryo transfer) é uma metodologia de melhoramento animal que, utilizando as modernas biotecnologias da reprodução de aspiração folicular, sêmen sexado, fertilização in vitro e transferência de embriões, permite testar e validar o trabalho de produzir grandes famílias de meio irmãos e irmãs completas. Desta forma, com o acasalamento de tou¬ros e vacas de elevado mérito genético, são produzidas progênies que, recriadas e avaliadas em ambiente comum, tornam possível a avaliação de touros jovens pelo desempenho de suas irmãs. O MOET permite a redução do intervalo de gerações, disponibilizando a opção de touros provados em menor espaço de tempo e a menor custo.
A seleção de touros jovens pelo núcleo MOET na EPAMIG, irá possibilitar a indicação com maior confiabilidade dos fut¬u¬ros participantes para o teste de progênie do Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro. A utilização de um programa MOET no rebanho gir da EPAMIG, de comprovada seleção de mais de 60 anos para produção de leite a pasto, com ênfase na rusticidade, fertilidade e temperamento, permitirá, além da identificação de touros jovens comprovadamente melhoradores para produção de leite, a possibilidade de, nos quatro anos do projeto, fazer a substituição da maioria do rebanho por fêmeas jovens de elevado valor genético.
O programa também permitirá, avaliar e preservar as linhagens existentes dentro do plantel da EPAMIG de mais de 600 animais gir leiteiro, além de buscar a identificação e validação de touros de outras linhagens tidas como leiteiras. Além disso, o projeto vai gerar informações em melhoramento genético de zebuínos leiteiros e validar estratégicas para a ciência e competitividade da bovinocultura nacional.
Como objetivos secundários do projeto, pretende-se incrementar o ganho genético para as características de interesse econômico pelo aumento da intensidade de seleção de fêmeas e diminuição do intervalo entre gerações, avaliar a viabilidade de formação de núcleos MOET de rebanho como esquema potencial para maximizar o melhoramen¬to genético para leite e identificar famílias da linhagem EPAMIG que possam, futuramente, ser utilizadas como soluções alternativas à redução da endogamia na raça gir.
A importância do zebu leiteiro
Aproximadamente 75% do leite produzido no Brasil é proveniente de vacas mestiças leiteiras com algum grau de sangue zebu, sendo fundamental a importância do material genético da raça gir criada nas condições de produção de leite a pasto nesta conjuntura. A demanda por este tipo de animal nas maiores bacias leiteiras, tanto as tradicionais como as emergentes, continua crescente face à busca de profissiona¬lismo e sustentabilidade econômica do setor, o que fortalece a necessidade de aprimoramento da aptidão leiteira em con¬dições de alto desempenho econômico da raça gir.
A raça gir exerce destacado papel neste contexto, por ser uma raça que incorpora rusticidade, produtividade e longe¬vidade. A raça gir leiteira é eficiente na produção de leite a baixo custo, sendo grande contribuinte destas características para as vacas mestiças. A seleção de animais de mérito gené¬tico superior para características de importante valor econômico, em sistemas de produção de leite, principalmente as relacionadas à eficiência reprodutiva, baixa utilização de insumos e longevidade devem ser alvo em programas de melhoramento. Portanto, as modernas ferramentas da biotecnologia devem ser foco da pesquisa para incrementar o papel desta raça como rebanho “núcleo” e fornecedor de genética superior para fortalecer a proposta de organização da produção em extratos de criadores elite, multiplicadores e comerciais no segmento rural da cadeia produtiva do leite. A contribuição através da utilização das biotecnologias da reprodução animal disponíveis no momento é fundamental pelo fato de permitir a utilização destas ferramentas como forma de multiplicar e identificar os melhores animais, que irão compor o melhoramento dos rebanhos.
A metodologia do projeto MOET
O projeto está sendo desenvolvido tendo por base genética o rebanho gir leiteiro da EPAMIG na Fazenda Experimental Getúlio Vargas/FGVT, localizada no município de Uberaba, e a utilização de receptoras selecionadas da Fazenda Escola da UNIUBE. As aspirações são realizadas em multíparas selecionadas do rebanho gir leiteiro da EPAMIG mantidas em manejo rústico de produção de leite a pasto, com arraçoamento mínimo por produção. As receptoras são mestiças selecionadas do rebanho da UNIUBE localizadas na fazenda Escola onde receberam os embriões e permanecerão até a desmama dos produtos provenientes da inovulação realizada.
Os critérios de seleção foram elaborados pelos pesqui¬sadores das entidades envolvidas e serão os mesmos empregados durante todo o projeto em cada uma das etapas anuais. Na seleção dos animais participantes do programa nesta primeira etapa, foram utilizados os seguintes critérios para as 24 fêmeas escolhidas no rebanho EPAMIG:
Apresentar potencial reprodutivo compatível com as técnicas de aspiração folicular, fertilização in vitro e transferência de embriões.
Possuir alto valor genético e desempenho fenotípico para as características de interesse econômico como: produção de leite, intervalo entre partos, idade ao primeiro parto, características de composição do leite, contagem de células somáticas, entre outras.
Metade das fêmeas utilizadas deverão ter avaliação do DNA mitocondrial comprovadamente de origem Bos indicus.
Na seleção dos 6 touros utilizados nesta primeira etapa foram utilizados os seguintes critérios:
Dois são touros já provados e classificados entre os primeiros pelo Teste de Progênie EMBRAPA/ABCGIL e ABCZ.
Dois são os melhores classificados em valor genético para as características de interesse econômico dentro do rebanho da EPAMIG, participantes do Teste de Progênie EMBRAPA/ABCGIL, e preferencialmente possuidores de ascendência paterna e/ou avô materno da linhagem EPAMIG.
Dois são touros de reconhecido mérito como reprodutores da raça gir e com histórico de progênie de alta produção de leite nos rebanhos utilizados.
Com o objetivo de minimizar a taxa de endogamia dentro do rebanho e resgatar e promover a identificação e multiplicação das famílias EPAMIG comprovadamente superiores, está sendo desenvolvido um rígido controle dos acasalamentos. O planejamento dos acasalamentos de um touro com quatro doadoras aumentará a chance de se obter um acasalamento de sucesso. O uso de um touro com mais de uma doadora também aumentará a base genética e conseqüentemente a variabilidade genética poderá ser mantida ou até ampliada, o que é de extrema importância para o programa de seleção EPAMIG.
Está sendo utilizado o sistema de acasalamento dirigido em que cada um dos seis touros escolhido é acasalado com quatro vacas e cada vaca com um touro. Neste tipo de acasalamento, teoricamente, estima-se a produção de um total de 192 progênies anuais das 24 doadoras, se gerar aproximadamente oito produtos para cada parceiro por casal e tendo como esperado de 5 a 6 fêmeas, formando: 24 famílias de irmãs completas com aproximadamente 5 a 6 representantes cada e 6 famílias de meio irmãs paternas com aproximadamente 20 a 24 representantes cada.
Desta forma, qualquer indivíduo será avaliado pela produção de aproximadamente 5 a 6 irmãs completas e de 15 a 18 meio irmãs, o que conferirá ao valor genético predito uma acurácia de aproximadamente 59%. A utilização de sêmen sexado por citometria de fluxo, com previsão de nascimentos de 85% de produtos do sexo feminino, favorecerá ao maior número de irmãs completas e meio irmãs dos acasalamentos, resultando em maior numero de lactações avaliadas e aumento da acurácia da técnica, com imensa contribuição ao resultado almejado. Com objetivo de se ter incremento na acurácia, todos os registros do programa serão unidos aos de produção dos parentes ascendentes e colaterais do animal avaliado já existentes nos arquivos zootécnicos da FEGT. A primeira etapa do projeto realizada entre novembro de 2007 e fevereiro de 2008 teve grande êxito, com o resultado de prenhezes e número de progênie por acasalamento além do planejado.
*Marcos Brandão Dias Ferreira (Médico Veterinário - Pesquisador da EPAMIG – Prof. da UNIUBE), João Cláudio do Carmo Paneto (Zoote¬c¬nista – Prof. da UNIUBE), Beatriz Cordenonsi Lopes (Médica Veterinária - Professora da FAZU)
Fonte: Revista ABCZ