7 de jan. de 2008

Artigo: "Julgamento de boi gordo"


Por Cristiano B. Márcio Nogueira

Algum tempo atrás um colega de Internet, que nem criador é, veio até a mim tentando defender a idéia da separação da raça em julgamento de morfologia, a conhecida pista, o que terminará levando à separação da raça. Depois de tanto tempo e mais alguma reflexão eu gostaria de dar um pequeno feedback à questão, com minha opinião pessoal, e agradeço o espaço que o bom amigo Rosimar Silva, por meio do Blog Girbrasil abre para a discussão do Gir nacional.

Sem dúvida, a pista não foi feita para gerar desentendimentos, mas é o que ela mais gera. Aqui no Estado de Pernambuco, a raça Gir teve um baque enorme que quase a levou à extinção alguns anos atrás, do qual só agora está se reerguendo, por causa de vaidades na pista, por causa da famosa "Palma de Ouro", o prêmio que o melhor expositor da Exposição Nordestina ganha. Um pedaço de madeira com uma pequena escultura em bronze.

Em 2006, em Natal, capital do Rio Grande do Norte, vi sujeitos cedendo vacas uns aos outros e importando vacas de outros Estados para gerarem "times de pista", e assim conseguirem o título de Melhor Expositor. Outro pedaço de madeira. Também vi brigas e opiniões exaltadas contra o julgamento do jurado. Tanto em Natal (RN), quanto em Salvador (BA), apenas para citar os julgamentos a que assisti no ano de 2006. Um amigo querido, parceiro da primeira hora do Gir, veio reclamar contra o julgamento da Exposição Nordestina 2007, por que o seu touro (comprado) não foi o Grande Campeão.

Se o mundo fosse perfeito, realmente eu defenderia a Pista e aceitaria o julgamento separado. Mas não o é. A Pista virou, para dizer as palavras de um de meus mais queridos professores no Gir, "julgamento de boi gordo". Sem falar que o julgamento é subjetivo, depende mais do gosto do jurado e de seu ânimo no momento do que do animal. Mesmo julgamentos grandes, com 3 ou mais jurados, ainda são subjetivos. E, justamente por causa disso, não gosto de Pista.

O Torneio Leiteiro julga tanto o potencial da vaca quanto o trato que ela recebe, mas no final das contas ainda é ela quem está botando todo aquele leite pra fora, não o dono dela. Torna-se, portanto, objetivo, sem influência do gosto de fulano ou sicrano. Se dermos um bom desconto para o arraçoamento, ao vermos os animais do Torneio Leiteiro, e/ou os resultados dos Controles Leiteiros e PGP, teremos mais indicações do rumo a seguir (ou não) do que vendo os resultados de Pista.

A eventual separação do Gir em duas raças não é o que a ABCZ diz querer, mas é o que vai terminar acontecendo, à medida que se for separando o julgamento aqui, depois o registro ali, depois nem sei mais o que... Quando virmos, já teremos duas raças de fato, e só faltará oficializar a situação. Com alguma pressão no ponto certo (aliás, errado), o MAPA e a ABCZ terminarão cedendo e... Quem ganhará? Não sei. Quem perderá? A raça, pois não mais poderá haver a salutar e benfazeja (para ambas as correntes) troca de genética dentro da raça. Por exemplo, um "Fazenda Brasília" da vida não poderá utilizar um touro EVA para dar mais beleza ao seu gado, e nem um FAN poderá utilizar um touro da Calciolândia para colocar mais leite no plantel. Eles estarão presos em "raças diferentes", sem poder registrar as crias destes "cruzamentos". Mesmo todos sabendo que, no fundo e no coração, todas as vacas destes criadores são Gir.

E, que não haja dúvida, caso haja uma cisão verdadeira dentro de nossa raça, haverá uma briga entre as tendências para a "posse da marca" Gir, pois quem a detiver terá mais visibilidade no mercado. Aliás, esta disputa infelizmente já existe, com alguns criadores que afirmam que só eles criam o verdadeiro Gir.

Por estas e outras que eu defendo a UNIÃO dentro da raça, independente de tendência. Se tivermos um único julgamento, mas com um olho na produção (assim como o Nelore tem feito), criador de gado mais leiteiro e menos caracterizado que quiser ganhar troféu vai procurar apurar a beleza racial de seu gado e criador que só pensa em beleza vai procurar adicionar produção (leite, precocidade, fertilidade) ao seu gado, ao invés de tentar alijar o companheiro que pensa diferente das pistas. Com um único julgamento, que pense em produção, a raça como um todo vai convergir para um animal ideal e terá (espero) criadores unidos, vai convergir para o excelente caminho do meio, e não para o caminho da separação, que é o atual.


Cristiano B. Marcio Nogueira
Criador de Gir
Recife – PE
yanaco@amarno.com.br



Em tempo:
Para os que ainda não me conhecem e ficaram com preguiça de checar o meu
Orkut, tenho 34 anos, sou pecuarista desde os 10, crio Gir há alguns anos (poucos, é verdade, mas pelo menos tenho o meu plantel da raça, ao contrário de certos "donos da verdade"), sou Zootecnista e estou efetivando como jurado da Abcgil.

2 comentários:

caio disse...

Pracero, tb acho que logo, logo teremos as duas raças oficilizadas e caminhando separadas, a ainda não sei quem vai perder mais, os sem leite ou os sem carne, pois as duas seleções em um unico animal eu não acredito e tb não seleciono.(Pois meu animal ideal não e produtor de Carne não, pois pra mim raça no gir e bem diferente de produzir carne.

Penso que tá chegando a hora de voltamos a ter somente um julgamento pra raça e o caminho sãos as entidades organizadas e atuantes, pois tb acho que os dois julgamentos nos moldes atuais só faz mal pra raça.

Então espero, que as entidades organizadas e atuantes e tb a ABCZ, absorva o seu o meu e de mais um monte de pensamentos na mesma linha dos nossos pra voltarmos a ter um só julgamento e mais ainda uma só raça.

Anônimo disse...

A raça gir só voltou a crescer com o trabalho de melhoramento para leite. Então, opinião minha, ela deve ser criada e julgada como raça leiteira. Agora se quizer aliar o leite com a raçã ai sim juntaremos o útil ao agradável.

Nicolau Muzzi Dabul Zootecnista

Nenhum comentário: